Índice geral Opinião
Opinião
Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Editoriais

editoriais@uol.com.br

Fadiga no futebol

Cercado de suspeitas, o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, vê as portas da Fifa e do governo federal se fecharem às suas pretensões

Em janeiro de 1989, quando Ricardo Teixeira assumiu o comando da Confederação Brasileira de Futebol, o Brasil era governado por José Sarney, o Muro de Berlim estava de pé, o pintor surrealista Salvador Dali vivia seus últimos dias e a seleção brasileira de futebol, depois do tricampeonato de 1970, passava por longo jejum de títulos mundiais.

Nos 23 anos transcorridos desde então, Teixeira enfrentou percalços, foi acusado de ilicitudes em duas CPIs, mas conseguiu consolidar seu domínio, que chegou ao ápice com a conquista do pentacampeonato na Copa de 2002.

Nos anos seguintes, quando alguns imaginavam que o dirigente seria fustigado pelo governo petista, os ventos continuaram a favorecê-lo. Ganhou a simpatia e o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e beneficiou-se da escolha do Brasil, anunciada em 2007, para ser a sede da Copa de 2014.

Essa trajetória indicava que o dirigente seria candidato a disputar a presidência da Fifa, repetindo os passos de seu ex-sogro, João Havelange, eleito em 1974 para presidir a entidade máxima do futebol.

Frustraram-se os planos. O principal motivo foi um processo judicial na Suíça, no qual se reuniram indícios eloquentes de que o presidente da CBF, em companhia de Havelange, teria recebido propina da empresa ISL. Em paralelo, acumulam-se evidências, no Brasil, de que a confederação tornou-se um balcão de negócios nebulosos.

Como a Folha revelou, o Ministério Público do Distrito Federal acusa a empresa Ailanto, ligada a Teixeira, de desviar R$ 1,1 milhão da promoção do jogo Brasil x Portugal, realizado em 2008. Segundo a acusação, a Ailanto agiu "com ânimo fraudulento e nítida má-fé".

De acordo com a investigação, trata-se de uma firma criada "ad hoc", com vistas ao evento. Começou com capital social de R$ 800 e, seis meses depois da partida, chegava a R$ 12 milhões -integralizados em dinheiro. Trata-se, evidentemente, de uma acusação da qual o presidente da CBF terá a oportunidade de se defender.

O cartola também viu fechar-se, no último ano, a porta que o conduzia aos bastidores do poder federal. Diferentemente de Lula, a presidente Dilma Rousseff tem tratado Teixeira com frieza e distância.

Tantos infortúnios levaram-no a considerar a possibilidade de renunciar ao cargo. Sem chances de concorrer à Fifa, desprestigiado pelo governo e exposto na mídia por suspeitas de desvios, a hipótese ganhou corpo nas últimas semanas.

Por ora, Teixeira parece disposto a aguardar os próximos lances. Certo é que sua autoridade se fragilizou e a longa gestão à frente da CBF dá sinais de fadiga.

Mais que uma troca de guarda, contudo, falta ao atrasado futebol brasileiro um projeto de gestão mais profissional e transparente.

Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.