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Carlos Heitor Cony

O "bom" nazista

RIO DE JANEIRO - A editora Nova Fronteira acaba de lançar um novo livro de Joachim Fest, contendo suas conversas com Albert Speer, o arquiteto de Hitler cujas lembranças, como o próprio autor confessa, foram fundamentais para escrever a biografia do ditador, hoje considerada a melhor obra sobre os momentos finais do regime nazista.

Amigo mais próximo de Hitler, que o admirava como arquiteto e companheiro, Speer é tido até hoje como um dos enigmas daquele período. Alguns historiadores chegam a considerá-lo o "bom" nazista, embora a expressão não tenha sentido.

Nenhum nazista poderia ser enquadrado numa escala entre o bom e o mau. Todos foram péssimos do ponto de vista moral e humanitário. Inclusive o arquiteto, que acabou ministro do Material Bélico e empregou o trabalho escravo dos prisioneiros de todos os países conquistados pela Wehrmacht.

Esse foi o principal motivo para sua condenação a 20 anos de prisão no Tribunal de Nuremberg, escapando da pena de morte que atingiu toda a cúpula nazista.

Outro dado que livrou Speer da forca foi a desobediência à última ordem de Hitler, com quem entrou em constantes atritos, desde as opiniões sobre a qualidade da música de Richard Strauss até sua recusa em cumprir a política de terra arrasada que lhe fora ordenada.

Hitler se refugiara no bunker, queria despedir-se de seus auxiliares mais próximos. Speer acreditava que o guarda à porta iria fuzilá-lo ali mesmo. Enfrentou o olhar de Hitler. Mesmo assim, estendeu a mão para despedir-se do homem a quem servira durante anos.

Hitler recusou o cumprimento. Já tendo tomado providências para a queima de seu corpo após o suicídio, falou para si mesmo: "Só a traição me foi fiel e o meu cão pastor Blondi".

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