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Claudia Antunes

Síria e seus precedentes

RIO DE JANEIRO - Depois de Kosovo, Afeganistão, Iraque e Líbia, somente delírios de onipotência podem explicar que se defenda de boa-fé uma intervenção militar externa para pôr fim à ditadura na Síria.

Apenas em Kosovo e na Líbia as intervenções foram justificadas primariamente por razões humanitárias, mas no Afeganistão e no Iraque recorreu-se, depois, ao argumento de que a derrubada dos fundamentalistas do Taleban e do tirano Saddam Hussein era suficiente para desculpar os erros da ocupação.

Em todos os casos, entretanto, a ação estrangeira provocou milhares de vítimas em períodos curtos de tempo. E aprofundou divisões sociais, étnicas e religiosas que tornaram inviável que populações que ocupam o mesmo espaço político pudessem, por si só, chegar a um acordo de convivência. Em Kosovo, passou em branco uma investigação europeia que acusa o governo pós-guerra de tortura e tráfico de órgãos.

Claro que é possível fazer um exercício de história contrafactual e imaginar quantos teriam perecido sem essas intervenções, do mesmo modo que todo dia há notícias de dezenas de mortos pela repressão síria.

Mas a lição desconcertante das revoltas árabes é que foi nas ditaduras menos isoladas externamente, Egito e Tunísia, que as sociedades se desenvolveram de forma pluralista o suficiente para não deixar morrer na praia as reivindicações por liberdade e dignidade, mesmo que o percurso à frente delas seja difícil.

A rebelião por democracia na Síria pode acabar logo, com a vitória de um dos lados -um cenário improvável. Mas também pode provocar ainda milhares de mortos numa guerra por procuração entre sauditas e iranianos, que só pode ser detida por um acordo de transição -como os que encerraram as guerras civis na América Central, no fim da Guerra Fria.

Os que desejam poupar vidas devem insistir em pressões para isso.

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