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Carlos Eduardo Lins da Silva

TENDÊNCIAS/DEBATES

Existe alternativa viável a Mitt Romney nas primárias republicanas?

sim

O potencial de agitação da direita religiosa

Entre os aspirantes à candidatura de oposição a Barack Obama na eleição presidencial americana de novembro, o senso comum indica como o mais viável o ex-governador de Massachusetts, Mitt Romney.

Mas, além de ter contra si o fato de pertencer à Igreja Mórmon, ainda objeto de grande preconceito nos EUA, Romney enfrenta gravíssimo problema eleitoral: ele não tem sido capaz de entusiasmar os grupos mais vocais e ativos de seu partido.

Nos EUA, o voto não é obrigatório. Nos pleitos para a presidência desde 1964, o índice de abstenção tem ficado em torno de 50%. Mobilizar eleitores para se dar ao trabalho de ir até o local de votação ou enviar o seu voto pelo correio, onde isso é permitido, é muitas vezes vital para a vitória.

Um político incapaz de energizar os seus potenciais militantes mais aguerridos dificilmente consegue chegar à Casa Branca. Romney parece estar entre eles, como comprova a fieira de adversários que vêm se alternando há meses como preferidos da oposição, apresentando-se como "o não Romney".

Assim, o Partido Republicano tem um grave problema para novembro: seu mais viável (e até agora mais provável) líder dificilmente será capaz de derrotar o presidente que busca a reeleição.

O último entre seus desafiadores é Rick Santorum. Na terça passada, ele perdeu a primária de Michigan para Romney, mas por uma diferença pequena, no Estado natal de seu oponente, que tinha muitíssimo mais dinheiro, equipe, estrutura e apoio do que ele.

Santorum tem incutido vigor em parcelas do Partido Republicano que até há poucas semanas se sentiam órfãs. Em especial a direita religiosa, os ultraconservadores e o operariado branco que odeia Obama.

Estes três contingentes somados não constituem a maioria do eleitorado americano, mas, bem articulados e dispostos à luta, podem perfeitamente conduzir seu preferido à presidência.

Obama em 2008 motivou a paixão de negros, hispânicos, jovens e boa parte da classe média e ganhou em grande parte por causa deles.

John McCain, que enfrentou Obama, apesar do gesto desesperado de incluir a superdireitista Sarah Palin em sua chapa, não chegou a motivar muito nenhum dos agrupamentos-chave do partido.

E sua candidatura, de qualquer modo, estava fadada ao fracasso de todo modo, pois ele era o herdeiro político da desastrada administração de George W. Bush no auge da crise econômica criada por ela.

Há dúvidas se Obama será capaz de manter o ímpeto dos grupos que o sustentaram com tanto ardor há quatro anos, já que ele deixou de cumprir -em nome da governabilidade- a maioria das promessas que fizera a eles. E isso pode lhe ser fatal, caso seu adversário seja capaz de incendiar seus militantes.

Se fizer o que atualmente ainda é muito difícil (bater Romney na disputa interna dos republicanos), Santorum terá boas condições de firmar a imagem de que ele é o anti-Obama.

Embora católico, ele já ganhou a confiança de batistas, evangélicos e toda a direita religiosa, decisiva na reeleição de George W. Bush contra John Kerry em 2004.

Só dois anos mais velho que Obama, ele é fotogênico e energético quase tanto quanto o presidente.

Ao escolher como seus grandes temas os chamados "assuntos culturais" (religião, casamento gay, aborto), ele apela para setores muito retrógrados da sociedade americana, mas também muito capazes de promover agitação.

Em suma, se passar por Romney e não cometer nenhum grande erro na campanha, Santorum pode ser um adversário mais perigoso para Obama do que qualquer outro, embora o presidente continue favorito.

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA, 59, é editor da revista "Política Externa" e autor de "Correspondente Internacional" (Contexto)

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br

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