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Marina Silva

Um novo começo

Dois dias antes do Dia Internacional da Mulher -que, no Brasil, temos a honra de celebrar com a chegada da primeira mulher ao mais alto posto da República-, foi lançado o manifesto "Retrocessos do governo Dilma na agenda socioambiental" (íntegra no site minhamarina.org.br), elaborado por várias entidades.

Ao analisar as medidas que o governo adotou nesse período, chegamos à conclusão de que vivemos o processo mais intenso de desconstrução das políticas ambientais.

Os temores de que a presidente Dilma pudesse sacrificar a preservação do ambiente em função de uma perspectiva desenvolvimentista à moda dos anos 1970 parecem concretizar-se.

O documento salienta que, ao contrário do anúncio de que a presidente aprofundaria as boas políticas sociais do governo anterior na área socioambiental, o que ocorre é a total descontinuidade, contrariando o processo histórico.

A flexibilização da legislação, cujo maior exemplo é a negociação para a aprovação de um Código Florestal indigno desse nome, e a lei que reduziu o poder de fiscalização do Ibama são os casos mais graves. Cita também a interrupção dos processos de criação de unidades de conservação, chegando à inédita redução de várias dessas áreas na Amazônia (86 mil hectares em sete UCs federais) por medida provisória. Cita ainda o congelamento no reconhecimento de terras indígenas e quilombolas, enquanto os órgãos públicos aceleram o licenciamento de obras com problemas ambientais e sociais -o caminho oposto ao do desenvolvimento com sustentabilidade.

Tudo isso representa uma perda enorme para o país. Felizmente, claro, não é o fim da história. Apesar da freada brusca que pode nos tirar definitivamente do foco da visão estratégica de nos tornarmos uma economia de baixo carbono, justo no ano da Rio+20, e do atalho perigoso para o futuro do Brasil, a presidente ainda pode dispor-se a construir um novo caminho e, por que não, um novo começo.

As entidades repetem o que foi feito nos governos anteriores: apontam os problemas com a disposição de quem se alista para encontrar soluções, sem o ranço destrutivo da oposição pela oposição -que só consegue ver os erros, mesmo onde há virtudes- e sem a complacência servil da situação pela situação -que só vê virtudes mesmo onde os erros saltam à vista.

Resta saber se a presidente se disporá a nutrir e orientar os feitos de seu governo levando em conta também aqueles que não se deixam reduzir ao único lugar que a visão estagnada do poder pelo poder reserva ao fazer político no Brasil, que é o de ser oposição ou situação -e considere as valiosas contribuições dos que se dispõem a assumir posição.

MARINA SILVA escreve às sextas-feiras nesta coluna.

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