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Claudia Antunes

Cidade partida, nova versão

RIO DE JANEIRO - O condomínio Equitativa fica no alto de Santa Teresa, aos pés do Cristo Redentor.

Seu terreno dá para a Colina, parte alta do morro dos Prazeres. Nos anos 90, virou rota de traficantes armados para a favela no morro. Só quem não tinha opção -ou obstinados cidadãos "alternativos", marca do bairro- continuou no condomínio.

Há um ano, os Prazeres receberam uma UPP. O tráfico ficou menos ostensivo. O Equitativa viu a chance de controlar o vaivém e instalou um portão. Moradores da Colina passam a pé, mas motos e veículos de entrega têm que se identificar. Na semana passada, em represália, mascarados invadiram o local, destruíram carros e ameaçaram condôminos de morte.

A história parece confirmar a divisão clássica entre morro e asfalto, em que a classe média busca a separação, mesmo em um lugar que evoca a igualdade. Ela é mais complexa, porém.

Ocorre que o morro dos Prazeres também se valorizou depois da UPP. Na Colina, há um campo de futebol numa antiga área do Equitativa desapropriada pelo município. O campo permite vista de 360º do Rio. Virou área cobiçada para negócios turísticos do morro. A MTV gravou um programa ali em 2011.

Lideranças dos Prazeres afirmam que não corroboram a ação violenta (tampouco apontam seus autores). No entanto pressionam o Equitativa para que lhes ceda 20 vagas de estacionamento. O condomínio afirma que as 92 existentes são insuficientes para os 136 apartamentos.

A situação é tensa, mas os dois lados têm um ponto de união: cobram da prefeitura, tão gastadora em outros lados, que cumpra promessa antiga de construção de um acesso à Colina, incluindo um plano inclinado, alternativo à escadaria do morro.

A favela está em transição, mas só UPP não basta para equiparar direitos e também deveres na cidade.

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