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Vinicius Mota

1922

SÃO PAULO - A mitologia heroica em torno da Semana de Arte Moderna de São Paulo, ocorrida há 90 anos, vem sendo minada pela revisão crítica e pelo rigor histórico. Marcos Augusto Gonçalves, colega desta Folha, é mais um a atestá-lo, no livro "1922" (Cia. das Letras).

Num assunto saturado de interpretações e hermetismos e de disputas intelectuais que ninguém mais entende, Marcos deu um passo atrás e pôs-se a contar o que aconteceu e quem eram os protagonistas da semana modernista.

Vemos desfilar um grupo de jovens bem-nascidos, como Oswald e Mário de Andrade, Anita Malfatti e Menotti del Picchia, todos permeando a oligarquia cafeeira paulista e flertando com seus patronos. A "tradição" não foi obstáculo à emergência daquela geração -agiu, de fato, como catapulta.

Mesmo o racha estético tido por divisor de águas, a crítica de Monteiro Lobato a Anita Malfatti, parece mais um aspecto de disputa interna que um fator definitivo a afastar modernistas de tradicionalistas.

Lobato estava com os "modernistas" na busca de uma forma menos peninsular e mais brasileira de escrita do português, na tentativa de renovar e fortalecer o nacionalismo e no reconhecimento das esculturas de Brecheret. E frequentava com eles a "garçonnière" de Oswald, mesmo após sua crítica a Anita ter sido duramente rebatida pelo mais espalhafatoso dos Andrades.

De modo análogo, a cruzada antiparnasiana dos paulistas de 22 convivia com sua adesão apaixonada ao nacionalismo militarista de Olavo Bilac. Basta ler as odes aos exercícios militares nos poemas de "Losango Cáqui", de Mário de Andrade, publicado também em 22.

O campo intelectual e artístico brasileiro -sobretudo o paulista- era rarefeito e diminuto demais para propiciar as clivagens que ficaram clássicas da Europa. Mal tínhamos tradição; que dizer vanguarda.

vinimota@uol.com.br

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