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Chance para a CBF

Renúncia de Ricardo Teixeira abre espaço para necessária renovação na entidade, a qual, no entanto, dificilmente ocorrerá nos próximos anos

A principal questão em torno da renúncia de Ricardo Teixeira à presidência da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) é saber se se trata apenas da conclusão de um ciclo pessoal ou se também propiciará, como seria desejável, uma nova fase institucional.

Após 23 anos de administração marcada por métodos idiossincráticos e desapreço pela transparência, o futebol teria muito a ganhar com uma gestão mais profissional e arejada. Não são esses, infelizmente, os sinais que se observam.

De acordo com normas estatutárias, assume o posto, até 2015, José Maria Marin, o mais velho dos cinco vice-presidentes da entidade -um para cada região do país. O novo presidente também substituirá Teixeira no COL (Comitê Organizador Local da Copa-2014).

Marin, 79, representa a continuidade, se não o retrocesso. Começou carreira política em 1960, como vereador paulistano. Em 1978, na ditadura militar, foi indicado vice-governador de São Paulo na eleição indireta de Paulo Maluf e o substituiu por quase um ano.

De 1982 a 1988, Marin foi presidente da Federação Paulista de Futebol. Chefiou a delegação brasileira na Copa de 1986, no México. Em janeiro, foi flagrado pela TV ao colocar no bolso, dissimuladamente, uma das medalhas que seriam entregues aos atletas do Corinthians pela Copa São Paulo de Juniores.

No currículo e no folclore, Marin encarna o protótipo do cartola brasileiro. A condição precária em que assume a CBF deverá levá-lo a fazer concessões, em especial na gestão do COL -até aqui, uma caixa-preta ligada a interesses de Teixeira, cujas relações com o governo federal estavam deterioradas.

Ricardo Teixeira ficará na história como o presidente que conquistou duas -1994 e 2002- das cinco Copas do Mundo do Brasil e trouxe para o país o Mundial de 2014. Nas duas décadas que passou à frente da CBF, concentrou as atenções da entidade na seleção brasileira, tratada como atração internacional e produto de marketing capaz de gerar receitas vultosas.

Teixeira foi também alvo de suspeitas de desvios, como no caso revelado por esta Folha sobre a receita de um jogo amistoso contra Portugal em 2008, e enfrentou

duas CPIs. Deixa para o sucessor uma confederação rica e um futebol de clubes não raro pobres, endividados e subservientes, com calendários problemáticos e administrados de maneira amadora.

Se houve avanços, como o Estatuto do Torcedor, deveram-se mais a fatores externos do que a sua iniciativa. Os interesses difusos do público nessa que é uma das maiores manifestações culturais do Brasil nunca tiveram prioridade em sua gestão, nem engendraram uma verdadeira agenda de modernização do futebol no país.

Sua renúncia e a eleição de 2015 na CBF abrem uma chance para começar a superar todo esse atraso. Algo muito improvável, porém.

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