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Pedro Trengrouse

Os Estados devem permitir o consumo de bebida alcoólica nos estádios na Copa?

SIM

Futebol, cerveja e futebol com cerveja

O brasileiro tem três paixões: futebol, cerveja e futebol com cerveja.

Uma em cada quatro cervejas consumidas no país, segundo a FGV, tem alguma relação com o futebol, seja pelos torcedores assistindo aos jogos ou na sagrada pelada com amigos. A indústria da cerveja é parte importante de todo o arranjo produtivo do futebol. Cada R$ 100 milhões consumidos em cerveja geram R$ 338 milhões na economia nacional.

O debate suscitado sobre o consumo de cerveja nos estádios não pode, portanto, se resumir simplesmente à Copa.

Não há nenhuma evidência que comprove qualquer relação entre cerveja e violência, muito pelo contrário. Um estudo feito no Mineirão evidencia que as ocorrências relacionadas às bebidas alcoólicas aumentaram 15% depois da restrição ao consumo de cerveja no estádio. Houve também um aumento sensível das ocorrências envolvendo o porte de drogas e o consumo de álcool ilegal.

Na Inglaterra, onde as autoridades acreditaram que a proibição da cerveja diminuiria a violência, descobriu-se após 15 anos que os torcedores aumentaram a quantidade de álcool antes das partidas e passaram a ingerir bebidas mais fortes, reunindo-se em bares dos arredores, aumentando a chance de encontro com rivais e deixando para entrar no estádio em cima da hora, algo que dificulta muito todo planejamento de segurança pública.

Uma pesquisa da FGV revela que apenas 5% da população pensa que o consumo de bebida alcoólica no estádio tem alguma relação com violência. Os principais fatores que a influenciam são: grupos fanáticos de torcedores, decisões de árbitros, declarações de jogadores, treinadores e dirigentes, notícias esportivas, infraestrutura inadequada dos estádios, falta de controle policial e de preparo dos agentes de segurança pública no tratamento ao torcedor.

É importante lembrar que, no Brasil, a restrição ao consumo de cerveja nos estádios não tem amparo em nenhuma lei federal. O Estatuto do Torcedor, que precisa ser melhor regulamentado, não faz menção específica à cerveja nem proíbe expressamente o seu consumo.

Embora alguns Estados possuam legislação sobre o assunto, foi a CBF quem proibiu a venda de bebidas alcoólicas em partidas oficiais de futebol, com base em um protocolo de intenções celebrado com o Conselho Nacional dos Procuradores-Gerais do Ministério Público.

O curioso é que uma das razões citadas para justificar a proibição é uma regra da Fifa. Mas ela já foi modificada justamente para permitir o consumo de cerveja nos estádios, respeitando a cultura de cada país.

Não há qualquer restrição à liberação de cerveja nos estádios brasileiros além de algumas leis estaduais que precisam ser revistas nas respectivas assembleias e de um ato administrativo discricionário da CBF, que pode e deve ser revogado pelo novo presidente com uma simples canetada.

Isso deve acontecer, pois não há qualquer razão para restringir o consumo de cerveja nos estádios, na Copa do Mundo e em todos os jogos do futebol brasileiro.

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