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Algum avanço na Síria

O anúncio de que o ditador Bashar Assad aceitou o acordo de cessar-fogo proposto pelas Nações Unidas para o conflito sírio, alinhavado pelo enviado especial da Liga Árabe e da ONU ao país, Kofi Annan, foi recebido com ceticismo.

A perseguição do governo sírio aos opositores já dura mais de um ano, e os massacres de civis em áreas controladas por rebeldes armados não arrefeceram. Nos dias após o anúncio, o Exército sírio continuava a bombardear redutos de resistência no país. A ONU calcula que 9.000 pessoas já morreram no conflito.

Assad concordou outras vezes com planos de paz, como a proposta feita pela Liga Árabe em novembro passado, sem que suas palavras se refletissem nas ações de suas tropas. De resto, ainda não se ouviu do próprio ditador um compromisso claro com o "plano de seis pontos" de Annan.

A proposta do ex-secretário-geral da ONU busca, afora o cessar-fogo e o início de negociações, garantir o acesso ao país de observadores da entidade e de integrantes das organizações de assistência médica e humanitária. O plano também prevê liberdade para manifestações pacíficas da população e para o trabalho da imprensa internacional, além da soltura de prisioneiros políticos.

O projeto não parece ter grande potencial de viabilizar negociações efetivas nem de responder às até aqui inconciliáveis demandas do governo e da oposição. Assad quer garantia de que não deixará o poder. Os rebeldes não aceitam outro desfecho que não sua deposição.

Apenas uma boa dose de cálculo de ambas as partes permitirá que a proposta seja aceita, taticamente. Uma fração da miríade de grupos rebeldes pode concordar com o cessar-fogo. De sua parte, o ditador pode ganhar tempo e mitigar a crescente pressão internacional contra os abusos de seu regime.

Ainda assim, o plano de Annan representa algum avanço. Pela primeira vez, EUA, China e Rússia parecem capazes de atuar de maneira conjunta para pressionar as partes em conflito e fazê-las aceitar os termos postos na mesa.

É improvável que possam entabular uma solução definitiva para o enfrentamento. Mas, mesmo que seja por um intervalo breve, o acesso de observadores da ONU, jornalistas internacionais e organizações humanitárias pode contribuir para diminuir a virulência do conflito, tratar feridos e doentes e conter a escalada de mortes.

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