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Hélio Schwartsman

As Malvinas são francesas

SÃO PAULO - Só quem se deu bem nas Malvinas foi a França: vendeu um território que não era exatamente seu aos espanhóis em 1766, entesourou o dinheiro e deixou que povos menos sensatos se digladiassem pela posse desse arquipélago sem valor econômico ou estratégico.

O que chama a atenção na novela em torno das geladas ilhas é como o nacionalismo coloca governos e nações a agir não só contra a razão mas também contra seus interesses.

Na guerra de 1982, os únicos que atuaram com um pouco de lógica foram os generais argentinos. Queriam salvar o regime, cuja performance econômica era desastrosa, unindo a população em torno de uma causa comum. No aspecto psicológico, tiveram sucesso. Até a esquerda argentina se pôs ao lado de seus algozes para defender a "soberania".

A junta militar cometeu, porém, um erro de cálculo. Nunca imaginou que os ingleses mobilizariam tropas para retomar o arquipélago. Não havia, afinal, sentido em fazê-lo. O império britânico se desmantelara havia muito, de modo que o precedente já não ameaçava o poder central.

No plano econômico, Thatcher gastou quase 1 bilhão de libras para salvar seu orgulho ferido. Nas contas do economista Robert Frank, isso daria para presentear cada "kelper" com um castelo escocês e uma pensão vitalícia. O despropósito não evitou que os britânicos cerrassem fileiras em torno da dama de ferro.

Os mecanismos mentais que disparam o nacionalismo fazem sentido evolutivo na escala do bando, dimensão em que reforçam os vínculos do grupo e o tornam mais apto a enfrentar ameaças externas, notadamente clãs inimigos que competem por território e mulheres. Nesse contexto, há lógica em reagir com violência a tudo o que cheire a provocação.

No mundo moderno, porém, o nacionalismo tem servido mais para produzir guerras pouco razoáveis do que para cimentar de forma saudável o senso de comunidade.

helio@uol.com.br

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