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Claudia Antunes

Falta a palavra de Dilma

RIO DE JANEIRO - Decretada há 40 anos, a "guerra às drogas" foi a principal responsável pela explosão do encarceramento nos EUA. Dos 2,3 milhões de pessoas em prisões americanas, um quarto responde pela venda ou uso de substâncias ilegais -cujo consumo não foi reduzido.

O Brasil, de forma extemporânea, vai pelo mesmo caminho. O número de presidiários acusados de tráfico chegou a 25% do total no ano passado. Em quatro anos, ele aumentou 79%, enquanto toda a população carcerária cresceu 22%. As mulheres são menos de 7% dos presos, mas sua presença nas cadeias cresce mais rapidamente do que a dos homens, aponta a ONG de direitos humanos Conectas. Mais de 60% delas respondem por tráfico.

O fenômeno é creditado à má aplicação da Lei de Drogas de 2006, que livrou usuários da prisão. Como a lei é pouco específica, pequenos criminosos e consumidores que vendem para sustentar o vício perdem o direito de responder em liberdade quando acusados de narcotráfico.

Esse efeito perverso da repressão junta-se à violência das disputas entre quadrilhas e ao poder do crime de corromper forças da ordem.

No México e em países centro-americanos, que são rotas do contrabando para os EUA, tais custos são cada vez mais questionados.

Otto Pérez Molina, um general linha-dura eleito em 2011 presidente da Guatemala, agora fala em legalização de entorpecentes. Ouviu de Washington, principal provedor de fundos para polícias e militares da região, que não há hipótese de mudança na estratégia atual.

A presidente Dilma, concentrada na economia, evita esse debate, assim como abre espaço ao conservadorismo em outros temas difíceis, como aborto. A guerra às drogas será discutida na Cúpula das Américas, nos dias 14 e 15, e uma posição mais avançada do Brasil poderia mudar a balança no hemisfério.

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