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Deficit de ambição

Viagem de Dilma Rousseff aos Estados Unidos tem agenda modesta, aquém dos laços e interesses econômicos que unem os dois países

A viagem de Dilma Rousseff aos EUA não deve redundar em entendimentos que alterem relações bilaterais ainda marcadas por marasmo diplomático e escaramuças, apesar dos bem-vindos gestos de aproximação da nova presidente.

A visita cortês -porém vazia- de Barack Obama, em 2011, servira no máximo para aliviar a tensão causada pelo apoio do Brasil ao Irã. Desambiciosos, os dois encontros não sugerem uma estratégia de estreitamento de laços. Basta dizer que o tópico mais importante da agenda de Dilma nos EUA é o envio de estudantes para universidades americanas.

Na última década, abriu-se uma oportunidade de aproximação diplomática entre Brasil e EUA, dadas a ascensão de potências que confrontam a supremacia americana e a crescente relevância de um país amistoso como o Brasil.

Não há conflito frontal entre as duas nações. Mais que isso, há laços econômicos profundos, além de valores culturais e democráticos compartilhados.

O establishment político dos EUA, contudo, ainda é indiferente ao Brasil, excetuadas ocasiões em que o tradicional não intervencionismo da diplomacia brasileira entra em choque com a beligerância americana, como nos casos de Irã, Líbia e Síria. As tensões já foram maiores, porém, em especial com o programa frenético de afirmação brasileira nos anos Lula.

Empresários americanos têm, no entanto, vivo interesse pelo Brasil. Advogam a facilitação da entrada de brasileiros nos EUA. Animam-se com as exportações americanas para o país, que triplicaram desde 2004. Certo, as exportações chinesas cresceram nove vezes nesse período; em 2009, a China tomou o lugar dos EUA como o maior parceiro comercial do Brasil. Mas a conexão americana ainda é mais intensa.

O investimento americano no Brasil suplanta o chinês na razão de 13 para 1. Cerca de 45% das exportações brasileiras para os EUA são de bens manufaturados, contra 4,6% no caso da China.

Apesar desses nexos, a agenda econômica dos dois países é marcada por contenciosos setoriais, como as barreiras a produtos agropecuários ou aviões da Embraer.

A relação bilateral, por fim, é anuviada pela oposição americana à reivindicação brasileira de poder em instituições multilaterais. Tais divergências, ainda que variadas, nunca foram óbice ao aprofundamento das relações econômicas.

Os governos de Brasil e EUA se mostram incapazes, entretanto, de criar um programa oficial que amplie intercâmbios, que contorne as ruínas de acordos, ou impasses, em instituições multilaterais, seja na ONU, no FMI, na OMC -obstáculos que minam o fervilhante interesse privado na aproximação entre as duas nações.

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