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Crise política na China

Um raro indício das divergências internas no Partido Comunista Chinês veio à tona sob a aparência de um mirabolante filme de ação e espionagem oriental.

Até o início do ano, Bo Xilai, dirigente do PCC na área de Chong-qing, era um dos políticos mais populares da China. À frente de uma região industrial com 30 milhões de habitantes, Bo era cotado como nome certo para o Comitê Permanente, órgão máximo do país.

O dirigente ganhara visibilidade por seu perfil populista calcado na retomada de slogans e tradições comunistas, além de ampliar a rede de assistência social de sua região e combater a corrupção. Sua perseguição às máfias criminosas atingira também empresários locais.

Em fevereiro, Wang Lijun, chefe de polícia de Chongqing, até então homem de confiança de Bo, fugiu para um consulado dos EUA em busca de asilo. Carregava o que dizia serem provas de comportamento criminoso da família de Bo.

A mulher do líder populista foi acusada pelo assassinato de um empresário inglês. Bo perdeu o cargo de direção do partido em Chong-qing. Sua carreira política acabou.

Ainda que o expurgo possa ter sido precipitado por tais episódios, o afastamento já era de interesse dos dirigentes do partido.

Bo vinha-se valendo de estratégia heterodoxa para ganhar projeção. Além do jogo de influências e favores internos ao partido, buscou conquistar apoio popular direto. O fato de recorrer a símbolos e canções do período maoista como tática de aproximação com os mais pobres e de apoio nas alas mais ortodoxas do PCC levou o premiê Wen Jiabao a caracterizá-lo como político retrógrado, adversário da abertura à economia de mercado.

A sensibilidade oportunista de Bo para os novos conflitos sociais e as vantagens de se amparar na velha guarda fizeram dele uma ameaça e um obstáculo conservador para a política de Wen.

O PCC teme a mobilização popular direta, que pode fugir a seu controle. Foi o que ocorreu no período maoista e nas manifestações estudantis de 1989, que levaram ao massacre de Tiananmen.

Mas o expurgo de Bo não resolve os desafios reais com os quais o PCC precisa se defrontar. A diminuição do ritmo de expansão econômica, a crescente desigualdade e a constituição de uma opinião pública urbana de classe média projetam um futuro político bem mais instável e conflituoso para o país.

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