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Comissão de fumaça

Os desdobramentos de qualquer CPI são proverbialmente imprevisíveis, mas também pertence ao campo das banalidades a observação de que comumente terminam "em pizza" as investigações de grandes escândalos políticos.

Mesmo uma superficial comparação histórica aponta, todavia, para aspectos capazes de conferir à atual CPI ambiguidades particulares. Diferentemente do governo Collor e do primeiro governo Lula, a CPI do caso Cachoeira se inicia num clima de otimismo econômico e esmagadora popularidade da presidente Dilma Rousseff.

Dado o fato de seu estopim terem sido as ligações entre um nome destacado da oposição, o senador Demóstenes Torres, e um empresário acusado de explorar jogos ilegais, estaria em curso raro exemplo de comissão parlamentar construída a favor dos interesses do governo -e não contra eles.

Confirma essa avaliação o forte domínio de deputados e senadores ligados à base dilmista (só há sete parlamentares da oposição entre 32 membros) na CPI.

Contudo mostram-se tão amplas as ramificações do caso, em especial no que tange à construtora Delta, que também setores do governismo se veem próximos da linha de tiro das investigações.

Não apenas o governador petista do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, tem contratos suspeitos em sua administração. Também diversas obras do PAC, prioridade da gestão Dilma, carregam a assinatura da construtora Delta.

Num jogo em que todos, em tese, têm algo a perder, o bom senso indica que o interesse geral converge para um empate.

Há outro fator em questão, todavia: a esboçada rivalidade entre Lula e Dilma no controle da máquina petista, e talvez na sucessão presidencial. É assim que ambos divergiram com relação ao nome de quem deveria ser o relator da CPI.

Favoráveis ao nome do deputado Cândido Vacarezza (PT-SP), os setores próximos a Lula viram-se frustrados com a indicação de Odair Cunha (PT-MG), aparentemente menos imbuído do espírito de ajuste de contas com o passado.

Fogo contra fogo, fumaça contra fumaça, o próprio governismo não parece ser uma coisa só nesta CPI.

No clima de desgaste geral, a presença de Fernando Collor como um dos seus membros de destaque dá a nota irônica, e bastante eloquente, de um processo investigativo em que todos parecem ter algo a esconder.

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