Índice geral Opinião
Opinião
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Claudia Antunes

Fogueira das vaidades

RIO DE JANEIRO - Houve uma época, nas décadas seguintes à Segunda Guerra, em que não era de bom tom ostentar riqueza, ao menos nos grandes centros do Ocidente. Exceções ficavam por conta de realezas extemporâneas e do exotismo de ditadores amigos e suas mulheres, como a iraniana Farah Diba e a filipina Imelda Marcos.

A partir dos anos 80, livros e filmes como "A Fogueira das Vaidades" e "Wall Street" captaram a mudança de hábitos.

Não apenas os ricos ficaram mais ricos com a liberalização das finanças, como passou a ser aceitável que exibissem um estilo de vida cada vez mais distante do das pessoas comuns. A trilogia "Millennium" mostra que nem a igualitária Suécia, onde autoridades andam de ônibus, escapou da tendência.

O mercado do luxo extremo sobreviveu bem à crise de 2008, segundo reportagem do caderno "Mercado" desta semana. Isso indica que os "senhores do universo", cujo consumo extravagante é retratado no livro "Extreme Money", ainda têm muita gordura para queimar.

O Brasil, sempre desigual, não pegou a fase do recato, mas embarcou com tudo no exibicionismo seguinte.

Enquanto a nova classe média herda da velha o costume de ir às compras no exterior, políticos e autoridades acompanham o padrão de fornecedores do Estado e doadores de campanhas. Salários do setor público não bastam, mas sempre há espaço para caronas em jatinhos e helicópteros.

O yuppie do romance de Tom Wolfe cai num desvio do Bronx e conhece o purgatório em uma Nova York onde não há inocentes. O senador Demóstenes, protótipo do falso moralista, e o governador Cabral, que exalava autoconfiança até sua amizade com o dono da Delta vir à tona, não terão sido os últimos a acreditar que poderiam desfrutar do calor da fogueira sem se queimar.

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.