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Emanoel Araujo

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Adeus à Fundação Bienal de São Paulo

A Fundação Bienal foi criada para fazer a Bienal. Para que ela servirá se, por uma decisão ministerial, não puder mais realizar o seu único propósito?

O grande governador da Bahia Octávio Mangabeira costumava dizer, diante dos abusos existentes na vida pública e política da Bahia, a sua mais famosa frase: "Pense no maior absurdo -a Bahia terá sempre um precedente".

Seguramente, sua frase valeria muito para definir o momento da vida nacional.

Querem acabar com uma das poucas instituições de respeito internacional: a Fundação Bienal de São Paulo, com magníficos 60 anos de existência.

Surge assim como impasse a impossibilidade da realização desta 30ª Bienal e, consequentemente, da 31ª, da 32ª, da 33ª -nem se sabe quantas deixarão de existir, por anos a fio, sem que se tenha uma ideia precisa do que se trata verdadeiramente o caso.

As contas da fundação foram bloqueadas por inadimplência. A existência da dívida e o seu valor, R$ 75 milhões, são coisas tão extraordinárias que nos perguntamos: quem vai pagá-la?

Seu fundador foi o industrial altruísta e muito brasileiro Ciccilo Matarazzo, que também criou o Museu de Arte Moderna, para que ele realizasse a Bienal.

Como a atuação do MAM estava mais para um barzinho do que para um museu, resolveu doar toda a coleção do museu e a sua própria para o Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo.

Desde então, a instabilidade na gestão da Bienal persistiu, assim como na maioria das instituições culturais do Brasil.

A Fundação Bienal foi criada com o propósito de realizar a Bienal Internacional de Arte. Agora, perguntamo-nos ironicamente, para que servirá a Fundação Bienal se ela não poderá realizar seu único propósito?

Perante esse absurdo, está o ultimato do Ministério da Cultura descredenciando a Fundação Bienal da realização do evento por anos, pois se presume, desde já, que essa dívida é impagável.

Por outro lado, também se pergunta por que gastar R$ 25 milhões na realização de uma Bienal? Um evento de duração tão efêmera, num país pobre para muitos, cujo espetáculo da pobreza se assiste todos os dias na telinha da TV, com a corrupção correndo solta, com a falta de cuidados com a saúde pública, com o desleixo na educação.

Acho que esse desmando do Ministério da Cultura, liderado pela senhora ministra, deveria provocar uma comoção paulistana, do povo e dos conselheiros da Bienal.

Seria um dever de todos defender a instituição: artistas, produtores, jornalistas, críticos de arte e, sobretudo, o Conselho da Fundação. Todos deveriam se levantar diante da obscuridade desses desmandos contra São Paulo.

Por que querem afinal acabar com a Fundação Bienal? É raiva do pretenso poder da locomotiva paulista?

Se assim é, este momento entrará para a história de São Paulo e da Fundação Bienal, com todos os seus conselheiros tidos como incompetentes e inoperantes, aceitando passivamente que a entidade não tenha os fundamentos para reagir diante do absurdo desses desmandos.

Não que o Museu de Arte Moderna de São Paulo não possa realizar para a fundação o seu principal evento, mas sim porque com isso descredenciará para sempre essa instituição de prestígio internacional.

EMANOEL ARAUJO, 71, é diretor-curador do Museu Afro Brasil e conselheiro da Fundação Bienal de São Paulo

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br

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