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Guinada em Israel

Na segunda-feira, os israelenses ainda achavam que iriam às urnas em setembro para escolher antecipadamente um novo governo.

Na terça, acordaram com a notícia de que o premiê Binyamin Netanyahu, do direitista Likud, fechara acordo com Shaul Mofaz, do centrista Kadima, para compor uma supermaioria no Parlamento.

Com a entrada do Kadima na coalizão, o governo conta agora com 94 das 120 cadeiras do Legislativo.

A manobra surpreendeu até os mais escolados analistas. Netanyahu e Mofaz -general que por vários anos foi chefe das Forças Armadas israelenses- vinham em rota de colisão. Desde que assumiu a liderança do Kadima, no final de março, Mofaz assumiu um tom duro contra o premiê, a quem chamou repetidas vezes de mentiroso.

O motivo declarado das desavenças era a política de Israel para o Irã. Enquanto Netanyahu proclama uma linha abertamente belicista, Mofaz, alinhando-se ao alto escalão militar, defende mais moderação e coordenação com os EUA.

Diferenças à parte, ambos têm a ganhar com a aliança. Netanyahu compra um ano e meio de governo quase sem oposição. Melhor ainda, deixa de ser refém dos partidos ultrarreligiosos e de extrema direita que compõem a coalizão.

Isso é especialmente relevante agora que o governo deverá adotar medidas que desagradam profundamente aos religiosos. Por força de decisões da Suprema Corte, Israel deve acabar com a isenção do serviço militar concedida a judeus ortodoxos e a árabes israelenses e terá de desmantelar dois assentamentos construídos em terras tiradas ilegalmente de palestinos.

Já Mofaz evita o risco de enfrentar eleições antecipadas, as quais, segundo todas as pesquisas, seriam desastrosas para o seu partido, que perderia várias de suas 28 cadeiras atuais.

Em termos práticos, o resultado parece mais positivo do que negativo. No que diz respeito ao Irã, as opiniões se dividem.

Alguns especialistas acreditam que, sem oposição, o governo se sentirá mais livre para atacar. Outros apostam que a entrada de Mofaz, que nasceu em Teerã, no núcleo do gabinete exercerá um papel moderador sobre Netanyahu e a ala mais belicosa.

De todo modo, é bom que a administração se torne menos dependente das agremiações religiosas.

Um Estado mais laico em Israel pode ajudar a remover alguns dos obstáculos a um acordo de paz com os palestinos. Retomar as negociações foi, aliás, uma das exigências do Kadima para aceitar o acordo que surpreendeu a todos.

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