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Ruy Castro

Certezas da dúvida

RIO DE JANEIRO - Outro dia, a ciência abalou lares por toda parte. Uma pesquisa dos EUA afirmou que a chupeta não faz tanto mal assim às crianças. E que não só não atrapalha a amamentação como, ao contrário, a estimula -depois de passar horas chupando em vão aquela borracha insípida, os bebês fazem a festa quando se atracam a um peito autêntico, morno e acolhedor, transbordando de leite e de amor.

Isso contraria o que se pregou nas últimas décadas. E como ficam os inocentes jovens pais daquele período? Todos nos lembramos dos truques e mentiras que usamos para tirar a chupeta das crianças -"Mas, querida, você deu a sua chupeta para o lobo mau, não se lembra?"-, tornando-as confusas e inseguras. E depois nos perguntamos por que toda uma geração precisou de terapia para parar de chupar o dedo.

Pois, agora, a ciência voltou a fazer das suas. Depois de anos nos ameaçando com o câncer de pele provocado pela exposição ao sol e nos proibindo de sair de casa sem tubos e tubos de protetor solar -com o qual tínhamos de nos lambuzar assim que púnhamos o pé

na areia-, eis que uma pesquisa (também americana) informa que o protetor, ele, sim, é que pode provocar o dito câncer.

Pelo que li nos jornais, o óxido de zinco, ingrediente comum dos protetores, sofre uma reação química quando exposto aos raios ultravioletas, liberando radicais livres que matam as células. Bem, o processo deve ser mais complexo, mas o filme termina do mesmo jeito: as células dando o último adeus e se abraçando para morrer juntas. E logo quando nos achávamos mais protegidos.

Como sou da geração que passava Coca-Cola no corpo para já estar bronzeado em novembro -e continuo por aqui até hoje-, essa notícia não me diz muito. A ciência, sim, é que me assusta com a certeza com que propala as suas dúvidas.

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