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No limiar do acordo

Irã volta a dar sinais de que aceitaria inspeções nucleares, a fim de abrandar sanções e ganhar tempo para seguir adiante, como já fez antes

Depois de muitos desencontros diplomáticos, retórica inflamada e até ameaças militares, são reais as perspectivas de potências ocidentais e o Irã chegarem a um acordo sobre o programa nuclear do país.

Essa, ao menos, é a avaliação de Yukiya Amano, chefe da AIEA, a agência de energia atômica da ONU que negocia com Teerã.

Uma solução acordada é o melhor desfecho para a crise. Um Irã nuclear não contribui para a estabilidade geopolítica, ainda que se possa argumentar que o sistema de não proliferação atômica é essencialmente assimétrico, por manter todo o poderio nas mãos dos Estados já nuclearizados.

Se o regime dos aiatolás entrar para o grupo, vários países da região -como Arábia Saudita, Egito e Turquia- ficarão tentados a buscar o mesmo. Israel, Paquistão e Rússia já detêm a bomba. Considerando que essa é a área mais instável do planeta, convém evitar novos focos de tensão.

Daí não decorre que se deva impedir de qualquer maneira que Teerã adquira capacidade nuclear, como defende o governo israelense e se estuda nos EUA. Uma ação militar contra instalações atômicas no Irã criaria um novo conflito na região, preço alto demais para evitar um mal ainda incerto e, até certo ponto, administrável.

Países tão problemáticos quanto o Irã adquiriram armamento atômico nas últimas décadas. Até aqui, não deram sinais de que jamais tenham cogitado utilizá-lo.

É o caso de Paquistão e Índia, que vivem em permanente estado de tensão, tendo travado quatro guerras entre si. Nem mesmo a Coreia do Norte, país que pode reivindicar o título de regime mais inconfiável entre os detentores de poder nuclear, chegou a tanto.

Não há surpresa aí. A lógica nuclear é tornar um ataque proibitivo para o adversário, e não desenvolver armas para utilização real.

O principal fator a recolocar Teerã na rota da negociação foram sanções impostas pela ONU e, adicionalmente, pelos EUA e pela União Europeia. As represálias atingiram duramente a economia iraniana, e restrições adicionais estão previstas para o fim do próximo mês.

Nem por isso o Irã parece inclinado a abrir mão de perseguir a bomba. Como já ocorreu outras vezes, pode ganhar tempo e, depois, recuar na primeira oportunidade.

Seria um erro, porém, concluir que Teerã já se decidiu a desenvolver uma bomba completa. No Irã, como em qualquer outro Estado autoritário, facções disputam o poder e acalentam diferentes projetos.

Há correntes que se contentariam em adquirir a capacidade tecnológica de criar o artefato. Já traria alguma vantagem estratégica, mas sem os custos associados.

Israel e EUA resistem a aceitar um Irã no limiar da bomba. O bom senso aconselha que tirem da pauta a hipótese de confronto militar.

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