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Ruy Castro

Crime sem infra

RIO DE JANEIRO - Um homem foi preso outro dia em Guaratinguetá (SP), no ato de explodir um caixa eletrônico. Em sua companhia, levava o filho de oito anos. Não como assistente, estagiário ou cúmplice, mas como acompanhante mesmo -porque não tinha com quem deixá-lo. Sua mulher estava fora, trabalhando, e o zeloso pai não quis deixar o garoto sozinho em casa, entregue à televisão ou à internet durante horas. Sabe-se lá que riscos não corre uma criança exposta a esses veículos?

A história é boa, mas Damon Runyon, delicioso ficcionista americano do século 20, chegou primeiro. Em seu conto "Butch Minds the Baby" (Butch nana o neném), escrito nos anos 1930, uma quadrilha vai arrombar um cofre, e Butch, perito em brocas e explosivos, é obrigado a levar o filho de meses. O assalto se dá em meio a trocas de fraldas em cima do cofre, ao preparo de mamadeiras entre bananas de dinamite e ao choro da criança com dor de ouvidinho -as explosões a fazem achar graça e parar de chorar.

Pelo que me dizem, é um problema sério entre nós essa carência de mão de obra. Fico me perguntando sobre como os praticantes de sequestros-relâmpago conseguem operar sem uma oferta adequada de baby-sitters, no caso de serem pais jovens. E os adeptos de arrastões em prédios de luxo? Sem as antigas empregadas, como garantir que terão roupa lavada e passada para iludir os porteiros e penetrar nos condomínios sem despertar suspeitas?

É uma questão de mercado. Os criminosos que se prezam -aqueles que frequentam os gabinetes certos, manipulam os grandes capitais e contratam os mais respeitáveis advogados- não têm dificuldade para manter impecáveis os seus colarinhos brancos.

Já os nossos bandidos pé de chinelo, cada vez mais sem infra, terão de se virar por conta própria -ou aderir à legalidade.

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