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Josué Gomes da Silva

Cavalo de Troia

O impasse político na Grécia, desencadeado nas eleições de maio, nas quais nenhum partido conseguiu maioria para formar o governo, dificultou muito a solução do seu problema econômico e ampliou a volatilidade nos mercados de capitais ao redor do mundo. Infelizmente, o imbróglio não será resolvido antes de meados de junho, pois, ante a impossibilidade de acordo para a constituição do gabinete, o presidente Karolos Papoulias convocou novo pleito para o dia 17 próximo.

Mais do que nunca, os gregos precisam de um governo com ampla aprovação popular, capaz de mudar uma cultura há muito arraigada, de tutela exagerada do Estado, impossível de ser indefinidamente bancada por cofres públicos.

Não será, porém, com uma recessão que já dura três anos, e que no primeiro trimestre deste ano custou uma perda de 6,2% no seu PIB, que a Grécia conseguirá sair do buraco e quitar suas dívidas. É um círculo vicioso, no qual ninguém quer ceder. Quem perde com isso é o próprio país e a União Europeia, considerando-se a moeda única e o efeito em cascata no sistema financeiro.

Diante desse quadro, é inevitável a tese de uma even-

tual saída da Grécia do bloco de nações. Talvez a discussão seja inoportuna e de pouco efeito prático, pois o desligamento não resolveria de imediato a dívida com os bancos, o que se somaria aos bilhões de euros já despendidos pelo Banco Central Europeu no socorro ao país, nem seria capaz de aliviar os problemas sociais advindos da recessão.

Solucionar essa questão é prioritário. Ademais, mesmo que em menor grau, também há outras situações críticas na região e um efeito dominó da eventual saída da Grécia não poderá ser descartado. Felizmente, o plebiscito na Irlanda, na última sexta-feira, foi favorável à União Europeia.

A cada eleição, a crise econômica provoca mudanças. Onde o poder estava nas mãos dos liberais passou à esquerda, como na França, com a vitória de Hollande. O mosaico político dificulta o diálogo. Falta liderança. As mudanças de governos como resultado das urnas, não importando a matriz ideológica do novo governante e do governante derrotado, demonstram que as populações não estão nada satisfeitas com o status quo.

O velho continente precisa de um novo pacto! Acima dos interesses individuais de cada Estado Nacional, é premente a coesão. Afinal, embora fogo amigo, a crise helênica e de outras nações está para a zona do euro como o cavalo de Troia estava para o reino de Príamo.

A implosão da economia europeia não atende aos interesses de ninguém, e precisamos torcer para que prevaleça a lucidez dos antigos e dos novos governantes, atendendo aos anseios de seus cidadãos.

JOSUÉ GOMES DA SILVA escreve aos domingos nesta coluna.

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