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Altair Moreira de Souza Filho

TENDÊNCIAS/DEBATES

São Paulo não precisa de mais rodoviárias

Há cada vez menos passageiros. Já fechamos um terminal em 2001. E ninguém quer morar do lado de rodoviária: gastar milhões para degradar regiões?

Com uma canetada, o prefeito Gilberto Kassab decidiu que a cidade de São Paulo deve ter duas novas rodoviárias -uma em Itaquera, na zona leste, e outra na Vila Sonia, zona sul. O custo dessa decisão soma R$ 500 milhões.

As novas rodoviárias atenderiam o fluxo de ônibus intermunicipais para o Sul do país, no caso da Vila Sônia, e aqueles que usam as rodovias Dutra e Trabalhadores e servem o litoral norte, no caso de Itaquera.

A consulta pública sobre as novas rodoviárias terminou em 20 de abril e ainda não se conhece seus resultados. Mesmo sem responder aos argumentos contrários encaminhados nesse processo, a prefeitura já abriu a licitação para a pré-qualificação das empresas para construção das obras.

Contando assim, e considerando que esta é uma cidade de gigantescas proporções e necessidades, parece sensato. Mas não é.

São Paulo conta hoje com três rodoviárias em operação -Tietê, Barra Funda e Jabaquara. Fechou, em 2001, uma quarta, o terminal Bresser, que estava às moscas.

Nos três terminais que estão funcionando, o número de passageiros diminui todos os anos -efeito do aumento das viagens de avião e de carro, conquistas da nova classe média nos últimos anos.

Ao contrário do que acontece nos aeroportos brasileiros, aliás, as rodoviárias paulistanas têm plataformas, espaço e conforto de sobra para os usuários. Os passageiros, que bateram em 32 milhões por ano na década de 1990, hoje não somam 17 milhões em todas as três rodoviárias. Por que construir duas novas?

Essa é a resposta que o prefeito e sua administração devem à cidade.

Suponhamos que seja "para tirar ônibus das ruas". Falácia. Os ônibus continuariam entrando e saindo da cidade do mesmo jeito, usando as mesmas marginais.

O que se deve levar em conta é que novos acessos viários teriam de ser construídos para que os ônibus fossem das marginais até os terminais, aumentando o número de desapropriações e a natural degradação urbana no entorno deles -ou alguém quer morar ao lado de uma rodoviária? Cresce, por consequência, o custo final da aventura.

Suponhamos, ainda, que a resposta fosse "para servir melhor os passageiros da zona sul e da zona leste da cidade". Falácia também. Esses passageiros estão muito bem atendidos porque todos os terminais hoje em operação contam com metrô, linhas de ônibus urbanos e amplas áreas de estacionamento.

Se essa argumentação ainda precisa de números, vamos a eles: hoje, apenas 6% do movimento total no terminal Tietê e 5% no Barra Funda são de ônibus para o Sul do país. Não justificariam o investimento numa nova rodoviária na Vila Sônia.

No caso de Itaquera, nem números são necessários: basta olhar o mapa da cidade para ver que a proximidade com o terminal Tietê desaconselha o bom senso a inventar uma rodoviária clone naquela área.

Não há notícia, no mundo, de uma cidade com cinco terminais rodoviários. Nova York tem dois. A Cidade do México, dois também.

Aqui, além dos três citados, ainda temos terminais em Osasco e Guarulhos, nas franjas da cidade, operando quase em agonia, devido ao baixíssimo movimento. O mesmo problemas se verifica em São Bernardo e Santo André.

A verdade é que, com os R$ 500 milhões de reais que seriam desperdiçados em duas novas e desnecessárias rodoviárias, a prefeitura poderia resolver muitos outros problemas. Com que direito a administração municipal pensa em jogar o nosso dinheiro pela janela desse jeito?

ALTAIR MOREIRA DE SOUZA FILHO, 56, é diretor-geral do Consórcio Prima, que administra as rodoviárias do Tietê, do Jabaquara e da Barra Funda

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