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Depois da foto

Imagem reunindo Maluf, Lula e Haddad resume a deterioração dos costumes políticos brasileiros; Serra também poderia figurar nela

Costuma-se dizer, o que nem sempre é correto, que uma imagem vale por mil palavras.

Palavra nenhuma seria necessária, e mil palavras seriam insuficientes, para explicar a imagem de Paulo Maluf, Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Haddad selando a aliança entre PT e PP para a eleição à Prefeitura de São Paulo.

A foto, que pode agora engrossar os arquivos da Interpol a respeito de Maluf, teve efeito devastador até mesmo nos setores mais renitentes da tropa de choque petista. Mostrou bem mais do que o vezo do PT, já incorporado na militância, de fazer alianças com figuras que o partido viveu de satanizar.

Confirma, em primeiro lugar, o mau estado em que se encontram os tão proclamados instintos políticos do chefe petista. Seu senso de onipotência, alimentado pela criação vitoriosa de uma candidata quase desconhecida à sua própria sucessão, terá provavelmente feito com que desprezasse os riscos dessa excursão fotográfica.

Em segundo lugar, vê-se na foto da trinca o papel, entre constrangido e lamentável, de um candidato que não demonstrou a independência e a liderança que seriam de esperar de quem pretende administrar a maior cidade do país.

Como no caso da frustrada aproximação com Gilberto Kassab, Fernando Haddad surge apenas como um manequim teleguiado pela suposta presciência lulista.

Depois de se expor aos puxões de orelha de Marta Suplicy, nos entendimentos com o PSD do atual prefeito, teve de ouvir recados indiretos de Luiza Erundina, ciosa de manter a "linha justa" esquerdista na chapa à prefeitura.

Veio a foto, e sua repercussão fez o que, de moto próprio e de imediato, as convicções supostamente puras de Erundina não fizeram. O modelo lhe caiu mal -e seu PSB agora remexe nos guardados à cata de um vice da vice.

Do lado do PSDB, o candidato José Serra fica provavelmente a dever um favor ao governador Geraldo Alckmin. Este, no leilão público pelo minuto e meio de tempo televisivo do PP, não se interessou por oferecer ao malufismo mais do que já concede: uma compensadora presença na CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano), responsável pela construção de casas populares em todo o território estadual.

É difícil saber, faltando alguns meses para a eleição, qual o efeito da foto no resultado da disputa. Ficará, em todo caso, para os anais da política brasileira, um pouco como, no arquivo histórico de Chicago ou Nova York, devem estar guardadas as imagens dos grandes acertos pacificadores das famílias da cidade, em torno de um jovem apadrinhado comum.

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