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Rogério Gentile

Máfia do alvará

SÃO PAULO - Kassab tem feito um esforço enorme para retirar do seu colo o escândalo da chamada "máfia do alvará". Mandou abrir investigação, demitiu funcionário público suspeito e até ameaçou fechar shopping center. Mas, até agora, ainda não conseguiu explicar por que deixou uma área tão sensível da gestão municipal nas mãos de personagens sobre os quais há anos pesam rumores nada lisonjeiros.

Hussain Aref Saab e seu grupo eram desconhecidos do grande público, mas nunca o foram entre os funcionários da Prefeitura de SP. Desde ao menos a gestão Pitta, da qual Kassab foi secretário do Planejamento e chefe do senhor Aref, o nome deste servidor e de colegas eram pronunciados entre ressalvas.

Embora não houvesse, até então, surgido provas contra Aref, um administrador mais cuidadoso teria pensado cem vezes antes de nomeá-lo para a chefia do Departamento de Aprovação de Edificações da prefeitura, setor no qual uma assinatura tem o poder de viabilizar ou de atravancar empreendimentos de muitos milhões de reais. Na sua passagem pelo cargo, Aref conseguiu adquirir incríveis 106 imóveis, estimados em R$ 50 milhões.

É de estranhar também o motivo de Kassab não ter, ao longo de sua gestão, criado algum sistema para verificar decisões que estavam sendo tomadas ali.

Há aprovações, por exemplo, que poderiam facilmente ter chamado a atenção pela velocidade com que foram expedidas. Levaram semanas, quando a praxe é demorar meses ou até mesmo anos. Questionado pela Folha se havia alguma fiscalização sobre o setor, o prefeito respondeu apenas: "Espero que sim...".

Kassab diz que sua atuação tem sido exemplar no episódio, muito duro diante das suspeitas de corrupção. Pode até ser. Mas, a bem da verdade, não seria injusto utilizar um outro adjetivo para definir a sua conduta nesses anos todos. O prefeito de São Paulo foi, no mínimo, negligente.

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