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Claudia Antunes

O conservadorismo do mundo

RIO DE JANEIRO - A Rio+20 revelou um mundo mais conservador, e não só porque a Igreja Católica, apoiada por países como o Chile, conseguiu tirar do documento a referência a direitos reprodutivos, conceito aprovado na ONU há 18 anos que reconhece a autonomia das mulheres para decidir quando ter filhos.

Em disputa pelo poder, tanto os países ricos quanto os emergentes jogaram na retranca nas negociações sobre possíveis caminhos de desenvolvimento que sejam justos socialmente e que preservem o ambiente.

Os primeiros não querem ceder espaço de controle econômico, como detentores da maior parte do capital circulante e das patentes de alta tecnologia. Os segundos querem reter prerrogativas, como a de não terem que pagar agora pelo passivo do consumo energético insustentável de americanos e europeus.

Os dois blocos travaram uma queda de braço terminada em empate sobre transferência tecnológica, que os países mais pobres gostariam de ver livre da cobrança de royalties, e financiamento à economia limpa.

As ONGs, em particular as ambientalistas, têm sua parte de culpa. Passaram a enfatizar um discurso utilitário, de que economia verde também dá lucro. Deixaram de falar de justiça, num mundo em que um quinto da população é de miseráveis.

Desde 2008 parecia ter ficado claro que as finanças desreguladas estão no centro de um modelo instável que bloqueia saídas para a emergência ambiental. Mas os mercados, apoiados pelos grandes Estados, contra-atacaram.

Prova disso é que a proposta de um imposto global sobre transações financeiras não passou nem perto do debate oficial. Feita há 40 anos pelo Nobel James Tobin para estabilizar os mercados -e que poderia financiar o combate à pobreza e meios de produção mais limpos-, ela foi defendida por um grupo quixotescamente chamado de Robin Hood.

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