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Gasolina no fogo

Saúde da Petrobras exige que governo deixe sistema de preços de combustíveis nas mãos do mercado, cuidando só de evitar flutuação brusca

Qualquer aumento do preço da gasolina é impopular. Por ter impacto na inflação, é política e economicamente relevante. Mas não é mais possível manter o congelamento informal do combustível, em prática há quase uma década.

Mais ainda, é preciso permitir que os preços desse insumo flutuem de acordo com suas variações no mercado internacional, desde que estipulados certos limites.

O governo federal permitiu reajuste do preço da gasolina (7,8%) e do diesel (3,9%). Anunciou também que vai atenuar os efeitos colaterais do aumento lançando mão do tradicional recurso de reduzir um tributo, a Cide, que incide sobre o comércio dos combustíveis.

Ou seja, o governo ainda insiste em interferir excessivamente no mercado de combustíveis.

Para efeitos práticos, quer manter inalterado o preço na bomba.

Uma regulação leve desse mercado pode ser razoável. Evitam-se flutuações excessivas e choques de preços, o que pode ser prejudicial para o restante da economia.

A manipulação do preço, porém, distorce o mercado e o uso eficiente do combustível, além de prejudicar balanço e crédito da Petrobras, para nem mencionar seus acionistas. No médio e no longo prazos, o controle de preços é deletério.

O preço artificialmente estabilizado mascara o sinal de escassez presente no encarecimento do produto no mercado mundial. Impede, pois, que o consumidor recorra à alternativa eventualmente mais barata, como o etanol, de resto melhor em termos ambientais.

O excesso de consumo decorrente do preço controlado leva a Petrobras, por ordem do governo, a importar gasolina cara e vender a preço baixo. O prejuízo deteriora contas da companhia, afasta investidores e, ao final, prejudica sua expansão -a capacidade de investir e de produzir mais petróleo.

Como o governo manipula o preço da gasolina, causa também distorção no mercado de etanol, que se torna caro demais em relação ao derivado de petróleo. A baixa nas vendas de álcool prejudica usinas. A fim de remediar a situação, o governo oferece subsídios mais ou menos disfarçados a produtores. A manipulação dos preços causa, enfim, uma cadeia de distorções.

Ao permitir o reajuste dos combustíveis, o governo dá um passo na direção certa. Mas haverá novo recuo se outra vez baixar a alíquota da Cide. Vai continuar a distorcer o preço e, ao mesmo tempo, abrir mão de recursos num momento em que o crescimento da arrecadação é cada vez menor.

O governo precisa retirar sua mão pesada desse mercado. Aos poucos, a fim de evitar choques. Mas precisa, paulatinamente, deixar o sistema de preços funcionar.

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