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Enfim, algo de novo

Reunião de cúpula europeia avança na direção de uma união bancária; detalhes originarão mais disputas entre Alemanha e periferia

O encontro de cúpula da União Europeia (UE) teve lances de drama e debates acalorados até a alta madrugada de ontem. Nada de novo.

Ao final, porém, chegou-se a acordo para dar um passo inédito na direção do controle supranacional de bancos e gastos públicos na zona do euro.

A chanceler alemã, Angela Merkel, cedeu, ao menos por ora. Aceitou -resultado mais importante do encontro- que os fundos de estabilização europeus injetem capital diretamente nos bancos, cortando a ligação nociva entre eles e os respectivos governos, que aumentava o risco de insolvência de ambos os lados.

A pressão da Itália e da Espanha foi decisiva, especialmente a do primeiro-ministro italiano, Mario Monti. Ele exigiu medidas concretas para reduzir o custo de financiamento dos países em dificuldade, sem as quais não assinaria o pacto em favor do crescimento.

Mas, como sempre, o diabo habita os detalhes. A injeção de recursos só será admitida depois de estabelecer-se uma regulação unificada para os bancos, o que ainda será negociado até o final do ano.

A tarefa provavelmente ficará a cargo do Banco Central Europeu (BCE). Governos dos países dos bancos que tomarem recursos, contudo, não escaparão de compromissos formais de reformas e de cortes de despesas sob estrita supervisão europeia. O espaço para desacordo permanece amplo, portanto, e haverá novos embates antes de implantada a decisão.

Outra medida importante, e já esperada, é a aprovação de um pacote de 120 bilhões de euros para estimular o crescimento, com foco em projetos de investimento. A direção é correta, mas a quantia equivale a 1% do PIB da zona do euro, cifra muito pequena para fazer alguma diferença.

No geral, pode-se concluir que a disposição de compartilhar recursos e riscos de forma mais flexível rompe um dique político fundamental. Mas, na prática, o caminho para o federalismo será árduo.

A Alemanha, por boas razões, continuará a se opor a qualquer resgate à sua custa que não vier acompanhado de contrapartida em supervisão supranacional -vale dizer, de limitação à soberania. E as nações da periferia europeia continuarão a insistir no máximo de recursos com o mínimo de interferência externa.

Essa novela ainda terá vários capítulos. Pode terminar em uma união fiscal ou em novos obstáculos políticos. Até o momento, no entanto, a Europa se inclina por mais, e não menos, unificação.

O risco imediato de ruptura financeira foi afastado, mas a recessão se aprofunda e o alto desemprego não arrefecerá tão cedo.

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