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Realismo atrasado

Mantega abandona otimismo despropositado com o PIB; não se vislumbra no Planalto, porém, nenhuma centelha de ousadia ou de criatividade

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, finalmente se rendeu: reconheceu que o país crescerá pouco no futuro próximo e que os impactos da crise global no Brasil serão mais intensos que o previsto.

Do lado externo, o crescimento continua a desacelerar-se -a alta inferior a 2% esperada para o PIB global no segundo trimestre representa o pior desempenho desde 2009. Em todas as principais regiões -EUA, Europa e China-, ações de estímulo parecem ter pouco efeito estimulador da demanda.

Internamente, as dificuldades se mantêm: crédito apertado, endividamento das famílias, baixa confiança empresarial e deficiência de competitividade industrial.

Há ações conjunturais que ajudam a reduzir os danos, nas quais o governo tem sido ativo. A queda dos juros, a pressão para redução do "spread" bancário e as desonerações seletivas de impostos certamente impulsionarão a economia nos próximos meses.

Tais medidas não serão capazes, porém, de romper as amarras estruturais para um crescimento sustentado. Sua derrubada depende de ações estratégicas, que ainda passam longe da pauta do governo.

Passados 18 meses da gestão da presidente Dilma Rousseff, é possível e necessário fazer uma avaliação mais crítica de sua política econômica. Os resultados são medíocres. Para que o investimento, de fato, passe a impulsionar o crescimento, seria preciso mais audácia, em especial no campo tributário.

As desonerações recentes na folha de pagamento, por exemplo, somam apenas R$ 7 bilhões. A desoneração total do INSS, para todos os setores, custaria aos cofres públicos R$ 97 bilhões (2,5% do PIB). Admita-se: não há espaço nas contas do governo para tanto, não, por certo, em prazo curto.

Mas por que não aproveitar a economia com a queda de juros e a contenção de gastos de custeio para lançar um programa continuado de cortes dos tributos? Tal anúncio certamente contribuiria para espicaçar o espírito animal dos empresários, como quer Mantega.

Do lado do investimento público, novamente se fala em destravar as parcerias com o setor privado e aumentar as concessões em portos, aeroportos e infraestrutura em geral. Seria algo para 2013, mas a lentidão agonizante nessa área não autoriza otimismo.

A presidente tem promovido no Congresso a agenda da reforma previdenciária. Aprovou a regulamentação dos fundos de pensão do funcionalismo. Agora, deixa claro que vetará qualquer tentativa de acabar com o fator previdenciário que não combata aposentadorias precoces no INSS.

Mais que isso, não se divisam centelhas de criatividade e ambição no governo. Os horizontes do Planalto permanecem anuviados.

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