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Indústria x estagnação

Dados do comércio exterior reforçam diagnóstico de que redução da carga tributária é decisiva para o Brasil manter condições de competitividade

O saldo no comércio externo brasileiro no primeiro semestre, de US$ 7,1 bilhões, foi o menor para o período em uma década.

O esfriamento da economia na Europa e na Argentina, clientes importantes dos produtos brasileiros, pesou no resultado. E, também, a desvalorização do minério de ferro, que vendemos em abundância.

Apesar dos riscos episódicos, nenhuma novidade de caráter mais estrutural parece afetar o intercâmbio comercial brasileiro. O excelente desempenho do Brasil em produtos básicos -as cadeias do ferro, da soja e do petróleo respondem por 40% do que exportamos- permanece como seu maior trunfo num mundo em que o movimento geral do comércio entre as nações se mantém e até se reforça.

A China absorve com voracidade insumos de todas as partes do mundo, transforma-os em seu território e inunda os mercados globais com manufaturas. O superavit nas transações com os Estados Unidos compensa largamente o deficit que a China mantém com quase todos os outros países.

As compras chinesas insuflam a demanda e o preço dos produtos e dos insumos básicos mundo afora. Energia, minério e alimentos ficam mais caros, inclusive na China, mas os bens industriais não seguem essa tendência. Tornam-se mais baratos, relativamente, e isso porque passam pela fantástica fábrica chinesa.

A disponibilidade de subsídios estatais e de mão de obra na China -onde 600 milhões ainda vivem no campo- é tamanha que permite neutralizar o efeito do encarecimento dos produtos básicos sobre os preços das manufaturas.

Os lucros desse complexo industrial, catalisados pelo crédito subsidiado, são freneticamente direcionados para ampliar a capacidade produtiva. A China investe 45% do PIB; o Brasil, a título de comparação, mal consegue investir 19%.

Da alta nas compras chinesas de países como Brasil, Rússia e Austrália à subida nas vendas do gigante asiático para os EUA -passando pelo reforço nas despesas com investimentos produtivos e infraestrutura em solo chinês-, a série de indicadores acerca do primeiro semestre de 2012 apenas reforça o status quo geopolítico do comércio internacional.

Permanece, entretanto, a sensação de que essa corda já foi esticada ao máximo de tensão, atestada, por exemplo, pela acentuada deterioração da atividade econômica nas nações emergentes. É plausível conceber uma transição do modelo ao longo desta década, implicando recuo dos tentáculos industriais chineses e encarecimento das manufaturas no cotejo com os produtos básicos.

Nesse quadro, quem dispuser de um parque industrial competitivo e dinâmico terá oportunidade de sair-se melhor. Ou o Brasil impulsiona a indústria agora -o que requer redução de sua escandalosa carga tributária- ou se arrisca a voltar, de modo duradouro, para o clube da estagnação.

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