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Melchiades Filho Tribuna de desonra BRASÍLIA - Com a cassação de Demóstenes Torres, a oposição não perdeu apenas um congressista operoso e estridente. De certa maneira, perdeu todos eles. A ruína do senador goiano pôs em xeque a linha de atuação parlamentar mais voltada aos holofotes, ao confronto imediato e explícito. Deve demorar um tanto até os adversários de Dilma se sentirem de novo à vontade para ocupar os microfones do Congresso a fim de surfar em denúncias contra o governo e bater sem dó nos suspeitos. Primeiro, porque o inquérito do Cachoeiragate ainda respira -como atesta o cerco da PF ao governador tucano Marconi Perillo (GO). Segundo, porque a impostura do sujeito que desempenhava com brilho o papel de palmatória do mundo ficará, ao menos por algum tempo, viva na memória do eleitor. Curiosamente foi o próprio cassado, no discurso de adeus, quem deu a senha. Não se desculpou por ter recebido dinheiro e presentes de Carlinhos Cachoeira, nem por ter utilizado o mandato para atender os interesses do empresário-contraventor. Penitenciou-se, isso sim, por ter agido como xerife da ética e sido implacável na cobrança de políticos atolados em escândalos. Esse "não façam o que eu fiz" prenuncia, no mínimo, um certo esfriamento dos plenários. O bloco PSDB-DEM-PPS, que já tinha saído fragilizado das urnas em 2010 e enfrentava dificuldades para se projetar nas comissões do Legislativo (vide sua impotência na CPI do Cachoeira), tende agora a se recolher também das tribunas. Menos espaço para os verborrágicos, mais para os silenciosos: uma oposição que não se opõe, desinteressada em afrontar o Planalto e desgastá-lo pela crítica, que articula (ou simplesmente torce) pela fratura da coalizão dilmista, conformada com o fato de que o Brasil vive hoje uma democracia de partido único -o partido do governo. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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