Bernardo Mello Franco

Nanicos S.A.

SÃO PAULO - Hoje é o último dia para políticos se filiarem ao PEN, o recém-criado Partido Ecológico Nacional, sem perder o mandato por infidelidade. Para facilitar adesões, o presidente da sigla, Adilson Barroso, divulgou o celular na internet. Ele está animado: atraiu dois deputados federais do PSDB e cerca de 30 estaduais, a maioria no Acre e na Paraíba.

O dirigente mistura sotaque da roça com o dialeto da malandragem de Brasília. Simula intimidade, arrisca piadas, chama o interlocutor de "meu líder". Conversamos por telefone, mas quase senti o tapinha nas costas.

Ele foi o deputado estadual paulista eleito com menos votos em 2002, pelo extinto Prona. "Fiz minhas matemáticas e falei: é aqui que eu ganho mais fácil", lembra. Especialista em legendas nanicas, migrou para o PSC e saiu para abrir a própria sigla, a 30ª a ser registrada no país.

Fundar partido é um negócio lucrativo. Se for para perder eleição, melhor ainda. Você aparece na TV, embolsa verba pública e não passa pelo incômodo de usar gravata, ouvir discursos enfadonhos e ter que chamar desafetos de "Excelência".

Veja o caso de Levy Fidelix, dono do PRTB e candidato a prefeito de São Paulo. Ele vai disputar em outubro sua 12ª eleição. Perdeu as últimas 11. Outro dia, prometeu fechar o aeroporto de Congonhas. Era melhor continuar falando do aerotrem. Quem também vem aí é José Maria Eymael, do PSDC. Ele é uma espécie de José Serra dos pobres: vive sonhando com a Presidência, mas sempre acaba candidato a prefeito. Ey, ey, ey...

Os nanicos são uma piada cara ao contribuinte. No ano passado, o PRTB recebeu R$ 1,57 milhão do fundo partidário. O PSDC, R$ 1,19 milhão.

Assim como o PSD de Gilberto Kassab, o caçula PEN nasce com a boca aberta: quer "resgatar" políticos da oposição ansiosos para aderir ao governo Dilma. Segundo seu presidente, não será de esquerda, de direita ou de centro. "Eu não consigo mais enxergar isso, e olha que não sou cego", diz ele. Qualquer semelhança...