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Policiais descontrolados

A coincidência das mortes de duas pessoas baleadas em ações desastradas da Polícia Militar, uma em São Paulo e outra em Santos, não autoriza extrair grande conclusão sobre as tendências do crime e da ação policial no Estado. Deve servir, porém, de alerta.

Duas perguntas assombram a opinião pública, agora mais do que nunca: os policiais militares estão despreparados para atuar nas ruas? E o governo do Estado -tem de fato controle sobre sua polícia?

O emprego precipitado e desproporcional do poder de fogo por PMs contra suspeitos não é novidade. Em que pese a política de contenção da violência policial em sucessivas administrações peessedebistas, a corporação paulista mantém altos índices de letalidade: 5,5 mortos em confronto com policiais por grupo de 100 mil habitantes, contra 0,63 nos Estados Unidos.

Os dois novos assassinatos vêm somar-se a cerca de 450 mortes anuais por PMs. Além do que há de revoltante na sua gratuidade, o que preocupa, nos eventos recentes, é o contexto geral de aumento da violência. Homicídios dolosos sobem desde março; em junho, houve ao menos 115 -38,5% a mais que no mesmo mês de 2011.

Claro está que a maior parte dessas mortes foi perpetrada por facínoras. A própria Polícia Militar foi alvo de ataques crescentes; em junho, oito PMs foram mortos durante suas folgas e cinco bases policiais sofreram ataques, no que se acredita ser uma ação concertada da organização criminosa PCC.

Este seria o fator específico por detrás das duas mortes e de vários outros confrontos sangrentos: com o aumento do risco pessoal, os agentes estariam mais propensos a disparar, ignorando na prática todas as técnicas de abordagem apresentadas em seu treinamento.

Parece uma explicação, mas não é. Apresentada por autoridades, equivale a uma confissão de incompetência. Se policiais não se mostram capazes de observar, no momento de máxima tensão, os procedimentos destinados a preservar a segurança de cidadãos inocentes, de que adianta ensiná-los?

Em nada contribui para a confiança da população na PM que seus comandantes nem mesmo se entendam a respeito de um ponto tão básico. Enquanto o secretário da Segurança Pública, Antonio Ferreira Pinto, qualificou a abordagem do empresário morto em São Paulo como "desastrosa", o comandante-geral interino da PM, coronel Hudson Camilli, a considerou "tecnicamente correta".

Não são só os soldados, vê-se, que ainda precisam tirar as lições corretas dos trágicos episódios.

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