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Antonio Delfim Netto

Pessimismo

Quando olhamos a situação social e econômica do mundo, não podemos deixar de sentir perplexidade acompanhada de um sentimento de apreensão. A sensação é a de que ele está caindo aos pedaços.

Não há para onde fugir. Parece não haver esperança que nossos filhos e netos viverão mais tranquilos e melhores do que nós. Uma nuvem escura e um nevoeiro opaco transmitem medo aos empresários (que não veem por que investir), intimidam os consumidores (que não confiam na continuidade do seu emprego) e acovardam o sistema financeiro (que teme ver-se subitamente envolvido num descasamento mortal entre seus ativos e passivos).

A explicação para tudo isso é que parte do sistema financeiro internacional transformou-se numa fonte inesgotável de patifarias. Estamos a ver o que ele foi capaz de fazer com a Libor (London Interbank Offered Rate), a taxa de juros interbancária estabelecida em Londres (o centro financeiro mais importante do mundo), que durante anos foi determinada pela Associação dos Banqueiros Britânicos e parecia ser o último reduto de moralidade que lhe restara.

A estrutura produtiva e financeira mundial ruiu porque foi destruída a frágil base sobre a qual é construída: a confiança dos agentes sociais nas suas atividades econômicas e financeiras.

O ideal seria reconstruir essa confiança simultaneamente em todos os países, pois elas se autoestimulariam e haveria uma retomada econômica generalizada e de menor custo. Isso parece pouco provável pelo descompasso em que os países se encontram no processo de recuperação. Cada um, portanto, sem fechar os olhos para o que está acontecendo aos outros, tem de acelerar a sua recuperação para minimizar os sacrifícios de ajuste.

No caso brasileiro, isso significa olhar objetivamente para a nuvem escura e enxergar mais longe no nevoeiro, para diminuir o pessimismo inerente à economia trimestral que acabou nos dominando.

Será aceitável concordar com o fato de que a única coisa que importa é o "balanço trimestral" para seduzir os "investidores"? Não há dúvida de que poderíamos estar melhor: mais educação e mais saúde com uma pouco melhor administração, algumas mudanças na política tributária e no mercado de trabalho, uma cooptação mais rápida do setor privado com concessões de projetos de infraestrutura com taxas de retorno realistas etc.

Não há, também, a menor dúvida de que, relativamente ao resto do mundo, não fazemos papel feio na fotografia. E mais, há uma clara determinação política da administração federal naquela direção.

Nossas condições objetivas não sustentam o pessimismo que domina alguns setores da sociedade brasileira.

ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras nesta coluna.

contatodelfimnetto@terra.com.br

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