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Ruy Castro

Pode crer

RIO DE JANEIRO - Biógrafo que se preza tem de ser como escoteiro: sempre alerta -no caso, para informações. Não raro uma biografia se beneficia de conhecimentos aparentemente inúteis que, um dia, o biógrafo capturou por acaso. Exemplos:

Dorival Caymmi, o poeta do mar e dos pescadores, não sabia nadar e nunca pescou na vida. João Gilberto, famoso pela voz curtinha e econômica, tinha razoável potência vocal e foi com ela que iniciou sua carreira no Rio. Bellini, capitão da seleção brasileira de 1958, passou a vida erguendo a Copa do Mundo em banquetes e comemorações -poucos sabiam que ele tinha um ombro que saía do lugar, e levantar a taça acima da cabeça causava-lhe dor insuportável, mas Bellini não deixava ninguém perceber.

Woody Allen, o cronista de Manhattan, nasceu no Brooklyn, uma espécie de Tijuca nova-iorquina. John Wayne, o imortal cowboy do cinema, não gostava de cavalos nem lhes dava as costas na vida real. Frank Sinatra, privilegiado pelo ouvido absoluto, à prova de desafinações, teve um tímpano perfurado ao nascer. E Humphrey Bogart, com toda aquela dureza na tela e fora dela, era filho da aristocracia americana e foi criado entre punhos rendados e serviços de chá.

Guimarães Rosa, que inventou uma língua portuguesa só para ele, começou na literatura escrevendo em inglês. Clara Nunes, imortal sambista dos anos 70, era, originalmente, cantora de boleros. E Beth Carvalho, que carregou o samba nas costas nos anos 80, era cantora de bossa nova. Junior, Roberto Dinamite e Rivelino, símbolos, respectivamente, do Flamengo, do Vasco e do Corinthians, eram, na infância, torcedores do Fluminense, do Botafogo e do Palmeiras.

E os réus do mensalão já foram um dia severos detentores do monopólio da honestidade e do direito de crítica na política brasileira. Pode crer.

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