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Robson Braga de Andrade

No meio do caminho

Desonerações setoriais e mais BNDES não resolvem. É preciso cortar os encargos na energia e os tributos salariais. Concessões na infraestrutura tem de seguir

Num país onde ainda há controvérsia sobre a conveniência de executar uma política industrial, o Plano Brasil Maior (PBM) é um avanço. Ele deixou clara a necessidade de estimular a produção nacional, a única que cria emprego de qualidade e gera renda no país, contribuindo para seu pleno desenvolvimento.

Um ano após o lançamento, entretanto, já é possível dizer que o plano ficou no meio do caminho. Apesar dos estímulos de natureza pontual, que são necessários, a economia não reagiu. Os indicadores se encontram no mesmo patamar de 2009. Ou seja, estamos andando de lado há mais de dois anos.

Nos últimos 12 meses, a produção industrial caiu 2,1% na comparação com o período anterior. A utilização da capacidade instalada encolheu 0,9%. O emprego na indústria cresceu apenas 0,9% e está no nível do início de 2011. Os custos do trabalho aumentaram 5,2%.

As iniciativas do PBM -como desonerações setoriais, linhas de crédito do BNDES e compras governamentais- não são suficientes. Precisam ser complementadas por medidas mais amplas, perenes.

O país necessita de uma redução permanente dos tributos sobre folha de salários, produção, exportações e investimentos. Além disso, maior aplicação de recursos em infraestrutura, custos menores, menos burocracia, mudanças na legislação trabalhista e incentivos à inovação.

Largas áreas da infraestrutura devem ser concedidas ao setor privado, que tem mais condições de desenvolvê-las. O preço da energia precisa cair, principalmente pela redução dos encargos incidentes. O sistema tributário e as regras trabalhistas podem ser mais simples, encorajando os negócios.

Embora tenha gerado resultados nos últimos anos, o modelo de crescimento econômico baseado precipuamente no estímulo ao consumo mostra sinais de esgotamento. As famílias já estão endividadas, e a alta da inadimplência é indício de que é preciso apostar em outras saídas.

A ocasião recomenda mais ênfase na promoção dos investimentos, que abrem caminho para um crescimento sólido e duradouro. A formação bruta de capital fixo, porém, diminuiu nos últimos três trimestres pesquisados pelo IBGE, tendo encolhido 1,8% entre janeiro e março.

A produção industrial vem se retraindo há dez meses em comparação com igual período do ano anterior. Nas projeções da Confederação Nacional da Indústria (CNI), a economia vai crescer 2,1% neste ano, ritmo incapaz de sustentar o emprego na velocidade exigida pelo mercado de trabalho.

Isso é muito menos do que os 3,5% de crescimento no mundo e os 5,6% nos países emergentes, segundo as estimativas do Fundo Monetário Internacional (FMI). A indústria brasileira de transformação, cujo desempenho está aquém do desejado, terá expansão de 1% em 2012, se tanto.

O governo e as empresas vêm se esforçando para evitar o pior, mas o primeiro semestre foi praticamente perdido para a indústria.

Só com investimento pesado na modernização da infraestrutura e na ampliação das fábricas poderemos evitar que o ano que vem repita esse comportamento ruim.

Para reverter o quadro, devemos promover um forte estímulo ao investimento, além de um choque de competitividade que daria mais confiança para os empresários investirem. Atacar frontalmente nossas deficiências crônicas poderia mudar o padrão de crescimento da economia brasileira.

Adicionando ao PBM medidas de caráter estruturante, poderemos retomar o ciclo de expansão e avançar na consolidação de uma economia forte, competitiva e com inclusão social.

ROBSON BRAGA DE ANDRADE, 63, engenheiro mecânico e empresário, é presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI)

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