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A destruição da Síria

Mais um integrante da elite política e militar do regime sírio abandonou o ditador Bashar Assad nesta semana. O primeiro-ministro Riyad Farid Hijab anunciou sua deserção após conseguir retirar do país a maior parte de sua família.

Hijab tinha assumido o cargo havia dois meses, como resultado de eleições parlamentares que já não tinham significado prático num país dividido pela guerra civil.

Sua deserção é um sinal robusto de que o regime se desintegra de maneira lenta, mas inexorável. Ao sair jurando fidelidade à "revolução abençoada", Hijab, que fez carreira sob a mão forte de Assad, mostra que um grupo de dirigentes próximos do ditador já antevê o fim de seu poder e tenta, de modo oportunista, salvar a própria pele.

Segundo a rede de TV Al Jazeera, ao menos 37 altos funcionários do governo sírio, inclusive generais e diplomatas, já deixaram o poder desde o início da guerra civil. A essas defecções se soma o mais forte golpe sofrido pela ditadura, no mês passado, quando um atentado a bomba atingiu o coração do comando militar e matou três oficiais de alta patente.

Hijab, como boa parte dos desertores, pertence à maioria da população de origem sunita, que durante os anos de estabilidade conseguia acesso a cargos políticos, mas era mantida longe da cúpula militar. O ditador, cada vez mais, representa apenas a pequena minoria alauita a que sua família pertence, um ramo do xiismo que abarca não mais do que 12% da população.

A estrutura de poder comandada por Bashar Assad já não constitui um Estado no controle do país, embora mantenha o poderio como máquina de guerra. Seus soldados não superam em número os combatentes do Exército Livre da Síria, mas são mais treinados e têm acesso a armamento melhor. É de esperar, contudo, que as sucessivas deserções no primeiro escalão influenciem os pelotões de combatentes, cuja maioria é sunita.

Ao que parece, o fim do regime de Assad é uma questão de tempo. O problema é que nada indica, hoje, que esse tempo será breve.

O relativo equilíbrio de forças tende a prolongar a guerra. E as principais potências mundiais se mostram incapazes de chegar a um acordo para tentar pressionar, de maneira eficaz, o ditador sírio, o que sempre acaba vetado por seus aliados Rússia e China.

Tal impasse terminou por levar a um beco sem saída a missão do enviado especial das Nações Unidas, o ex-secretário-geral Kofi Annan, que deixa o cargo no final do mês. E assim a Síria se afunda numa sangrenta guerra civil.

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