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Hora de resistir

CUT desafia presidente Dilma Rousseff com greves que prejudicam o público e a economia e comprometem a eficiência do Estado

Está esmorecido, ao que parece, o poder de cooptação petista no sindicalismo dos servidores. Esse valorizado atributo do partido -de acirrar ânimos trabalhistas contra governos adversários e de domesticá-los quando o PT tem o mando da gestão- está sendo colocado em xeque pelo movimento grevista do funcionalismo federal.

Os líderes da paralisação, em franca expansão no país, não hesitam em infligir dano ao público e ao funcionamento da economia para fustigar o governo da presidente Dilma Rousseff. Na tentativa de acuá-la, lutam também por manter a influência que tais categorias conquistaram sobre o Estado.

Algumas carreiras paralisadas são lideradas por sindicatos radicais, ligados a legendas nanicas adversárias da CUT, o braço sindical petista. Mas a Central Única dos Trabalhadores continua hegemônica no sindicalismo federal.

O ataque de seu presidente, Vagner Farias, ao ministro petista Gilberto Carvalho, vaiado e chamado de "traidor" por cutistas, ilustra o tamanho da crise.

Avolumam-se os transtornos causados pelas greves. O comércio internacional, que depende da fiscalização nas alfândegas, foi duramente atingido. Compromete-se também o abastecimento interno de produtos de primeira necessidade produzidos exclusivamente no exterior. O fluxo em rodovias e aeroportos é estrangulado pelas fiscalizações policiais ostensivas, as famigeradas "operações-padrão".

Durante o governo Luiz Inácio Lula da Silva, quase todas as carreiras do funcionalismo federal obtiveram expressivos ganhos salariais. O gasto médio por servidor no Executivo saltou de R$ 2.840 no fim de 2002 para R$ 7.690 hoje -elevação que superou em cem pontos percentuais a inflação de 70%.

Pode-se argumentar que alguns servidores, como professores-doutores das universidades federais (salário inicial de R$ 7.627) ou analistas do Incra (R$ 3.714), fazem jus a remuneração melhor. O problema é que só despejar dinheiro em carreiras públicas que remuneram da mesma maneira em todo o território nacional, sem distinguir quem é mais produtivo, é uma política pública antiquada.

A lógica do sindicalismo federal -de igualar os ganhos pelo máximo, almejando "equiparações" com carreiras mais bem pagas- colide com o interesse público de favorecer a eficiência dos serviços. Além disso, aumentos generalizados solapam a diretriz, em boa hora abraçada pelo governo Dilma, de ao menos preservar o atual investimento federal na combalida infraestrutura do país.

O embate da presidente com um segmento tradicional do petismo é uma das principais provas de fogo de sua gestão. Se não conseguir quebrar a espiral de reivindicações, ficará refém da corporação e verá estreitar-se mais o espaço para incrementar investimentos.

Que Dilma Rousseff resista ao assédio, pois dessa atitude depende não só a conversão da economia brasileira para um padrão de crescimento mais acelerado. Está em jogo também a chance de desenvolver formas de remuneração mais modernas que estimulem a produtividade do funcionalismo.

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