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Brasil olímpico

Depois do pequeno avanço em Londres, Brasil precisa aproveitar oportunidade da Rio-2016 para galgar posições no ranking dos Jogos

O Brasil chega hoje ao final da Olimpíada de Londres com um resultado discreto. Ainda na dependência da definição de alguns resultados, o país já bateu seu recorde de medalhas.

O avanço, todavia, foi modesto diante do estágio alcançado há 16 anos, em Atlanta, quando a delegação brasileira conquistou 15 medalhas, três delas de ouro -total que se repetiu em Pequim, em 2008.

O desempenho mostrou-se compatível com a projeção do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), mas aquém das 20 participações em pódios esperadas pelo ministro do Esporte, Aldo Rebelo.

A quatro anos de patrocinar sua Olimpíada, a primeira a ser realizada na América do Sul, o Brasil melhora, mas não figura entre os destaques do planeta. Por que avançamos tão devagar?

A clássica e genérica queixa nacional de que "falta investimento" não é a melhor resposta. Embora sempre seja possível pedir mais, o fato é que, depois de Pequim-2008, o governo federal destinou cerca de R$ 2 bilhões ao esporte olímpico -sem contar as verbas, não divulgadas, de estatais como Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, que patrocinam vôlei e atletismo.

Por exemplo, de 2009 a 2011, foram repassados ao COB R$ 421 milhões por intermédio da lei 10.264, a chamada Lei Piva, sancionada em 2001 pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, que reserva 2% da arrecadação bruta das loterias federais para o esporte.

Parte daqueles recursos da União bancou ainda o programa Bolsa Atleta e investiu na preparação, na infraestrutura, na identificação de talentos e na capacitação de recursos humanos. Já há uma verba de R$ 276 milhões comprometida com a preparação de esportistas e a melhoria de instalações para a Olimpíada do Rio.

Lembre-se ainda que alguns Estados possuem leis de incentivo ao esporte, semelhantes à federal, com base em renúncia tributária. É o caso de São Paulo, que em 2010 e 2011 distribuiu mais de R$ 91 milhões para a capacitação e o treinamento de atletas.

No quesito investimento, o calcanhar de aquiles é o baixo volume proveniente do setor privado, mas é certo que a realização dos Jogos no Rio atrairá mais patrocínios. Além disso, com vistas a 2016, o COB e o Ministério do Esporte preparam novos programas e prometem reforçar o apoio financeiro.

Não obstante, prevalece a impressão de que o tempo é curto e de que o Brasil poderá desperdiçar a oportunidade única de dar um salto no cenário internacional ao promover uma Olimpíada, que custará ao país no mínimo R$ 33,5 bilhões (10% mais que Londres).

Com efeito, a atividade esportiva modernizou-se nos últimos anos, mas tem muito a avançar em termos de gestão e eficiência. Além disso, falta ao país um instrumento básico, que é uma política nacional de esporte. No primeiro caso, é preciso superar o persistente personalismo, não raro associado à ineficiência e a práticas condenáveis, que sobrevive na direção de entidades do setor.

Os britânicos dão um bom exemplo nesse sentido. Depois de um fiasco em Atlanta-1996, recuperaram-se com uma reforma no financiamento e na organização de sua estrutura esportiva.

Diferentemente do Brasil, onde a distribuição dos recursos das loterias é mediada por dirigentes do COB e das confederações, no Reino Unido, desde 1997, eles são repassados por um órgão público diretamente aos atletas.

Quanto à política de esportes, é essencial envolver amplamente a população, em especial os mais jovens, de modo a tornar mais eficiente a identificação de talentos.

O caminho é um sistema nacional que abarque não somente clubes, mas também escolas, universidades e outras entidades.

Urge, ainda, enfrentar diferenças regionais -basta dizer que o Sudeste, com 42% dos habitantes, é a origem de 60% da equipe em Londres.

Tais iniciativas poderão auxiliar na necessária ampliação do arco de modalidades nas quais o Brasil participa com chance de vitória ou de medalha.

Sobre isso, o exemplo de Londres se mostra também enfático: o time brasileiro concentrou-se em esportes coletivos numa proporção que não se observa em nenhuma das potências olímpicas. Dos 258 atletas nacionais, 38% disputaram apenas sete medalhas -no futebol, vôlei, basquete e handebol.

Em contraste, países com população menor que a do Brasil, mas voltados para esportes individuais, colhem melhores resultados.

Os brasileiros surpreenderam-se com a inédita conquista individual do ginasta Arthur Zanetti, medalha de ouro nas argolas. A pergunta é: quantos possíveis Zanettis vivem no país sem que tenham tido -ou venham a ter- a chance de praticar ginástica? Como identificá-los, atraí-los e formá-los?

Os desafios para a Rio-2016 não são triviais. Há que planejar e correr para aproveitar a oportunidade de mudar de patamar olímpico.

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