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Hélio Schwartsman

Reação olímpica

SÃO PAULO - Encerrada a Olimpíada, revelo a você, dileto leitor, o segredo do alto rendimento nos esportes: o atleta não pode pensar.

A razão para isso, como explica John Coates em "The Hour Between Dog and Wolf", é que, operando no nível da consciência, o cérebro é uma tartaruga. Levamos pelo menos 200 milissegundos para dirigir os olhos para um ponto de interesse, mais 300 ou 400 milissegundos para fazer uma inferência cognitiva e outros 50 milissegundos para iniciar o comando motor. Assim, um sujeito excepcionalmente rápido gasta, no mínimo, meio segundo pensando.

E meio segundo é uma eternidade no alto rendimento. Um saque no tênis dá ao rebatedor 400 milissegundos para reagir. Um pênalti chega ao gol em 290 milissegundos (daí que o goleiro costuma escolher um canto). No pingue-pongue, que nem sempre é levado muito a sério pelo torcedor olímpico, o tempo de reação cai para 160 milissegundos, só um pouco mais que os 120 milissegundos usados por velocistas para reagir ao tiro de largada e que fazem a diferença na hora de estabelecer recordes.

O cérebro resolve essa dificuldade mandando a consciência às favas e atuando no que se chama de nível pré-atencional. É o mesmo mecanismo que faz com que você se esquive de uma bolada muito antes de "ver" o projétil se aproximando. Nesses casos, não recorremos ao córtex, mas a estruturas muito mais primitivas, como o colículo superior. Com ele, não distinguimos formas e cores nem podemos identificar o objeto, mas o tempo para iniciar uma reação pode cair para 15 milissegundos.

Para vencer, portanto, o atleta precisa esforçar-se para não deixar a consciência interferir nos processos automáticos, que, se ele treinou direito, estão armazenados em seu cerebelo. Essa estrutura, envolvida com a coordenação motora e o equilíbrio, foi, ao lado do córtex, uma das que mais aumentaram de tamanho ao longo da evolução humana.

helio@uol.com.br

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