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Carlos Heitor Cony

Verde e rosa

RIO DE JANEIRO - Leio a crônica do Artur Xexéo sobre a maldição que pune com a morte aquele que toma leite depois de chupar manga. Relacionando outras maldições, o bom cronista que ele é cita as gravatas listradas que não combinam com camisas xadrez. As meias pretas com sapato marrom. Tomar banho após as refeições é letal.

Entre as superstições que herdou do pai ou da própria sociedade, Xexéo inclui a combinação espúria do verde-rosa, embora desmoralizada pela Mangueira, que assumiu destemidamente o aparente mau gosto e venceu o preconceito.

Também tive horror à combinação que atribuem ao Cartola: a escolha das cores oficiais para a mais popular das escolas de samba. Até o dia em que fui a um festival de Mozart em sua cidade natal, Salzburgo, quase na fronteira da Áustria com a Alemanha. Regência (uma das últimas) de Herbert von Karajan, que ali também nasceu.

Não conhecia a cidade, mas lá voltava, sempre que podia. E me espantei com o verde e rosa que domina as ruas e muitas das fachadas. No hotel em que ficava, fronhas, lençóis, toalhas, cortinas, tudo verde e rosa, cores do brasão oficial de Salzburgo.

Difícil juntar a cidade de Mozart com a escola de samba do Cartola. Olhava as ruas e as fachadas que já existiam no tempo do autor de "Don Giovanni" e da "Flauta Mágica". Uma das cidades mais bonitas da Europa, patrimônio cultural da humanidade, serviu como cenário de um filme de sucesso, "The Sound of Music", que virou "A Noviça Rebelde".

Há duas excursões básicas para os visitantes: o roteiro de Mozart e o roteiro do filme, que inclui o Palácio Mirabell e seus jardins. No meu caso, ficava no festival. E me reconciliei com o verde e rosa: tenho um sofá rosa com almofadas verdes -minha obscura homenagem a Mozart e à Mangueira.

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