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Hélio Schwartsman

Enquadramentos

SÃO PAULO - Se há um achado da neurociência relevante para a política é o de que metáforas têm existência concreta no cérebro e influenciam os nossos pensamentos.

Como explica o linguista George Lakoff, neurônios que disparam com frequência juntos formam uma conexão entre si que se fortalece à medida que é mais utilizada. A metáfora nada mais é do que essa conexão reforçada. Se eu me refiro sempre a um certo grupo armado como "terrorista", acabo ligando as duas ideias -e o sentimento de medo associado ao termo "terror". De modo sutil e fora do radar da consciência, tudo o que se refira a essa facção será por mim experimentado de modo negativo.

Se, porém, eu designar o mesmo grupo como "combatentes da liberdade", mobilizo ideias e sentimentos positivos. Os estragos que as ações provocam são os mesmos, mas a forma como vemos seus autores muda.

Nesse contexto, faz sentido que o PT se esforce para evitar o uso da palavra "mensalão", associada aos aspectos mais escandalosos do caso. Para o partido, é importante trocar o "framing" (enquadramento), descrevendo os fatos como crimes eleitorais, menos graves e que já estariam prescritos. Receio, porém, que essa seja uma batalha perdida. O termo "mensalão" já está consolidado, sendo usado até por militantes petistas.

De modo análogo, o ministro Ricardo Lewandowski levanta um ponto interessante quando diz que, a votação fatiada, por núcleos, já implica aceitar o "framing" da acusação.

A batalha por enquadramentos e metáforas não se limita à política. Ela se estende para todas as esferas da vida e pode valer bilhões. Foi o que se viu após o 11 de Setembro. Se entendemos o ataque às torres gêmeas como um só evento, os seguradores teriam de pagar US$ 3,55 bilhões. Se o interpretamos como duas ocorrências distintas, o valor passava a US$ 7,1 bilhões. A disputa terminou em acordo (US$ 4,55 bilhões), mas serve para ilustrar o poder dos "framings".

helio@uol.com.br

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