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A Europa recua

Recessão na Grécia se agrava e pode forçar novo prazo para meta de contenção do deficit; BCE também já se prepara para socorrer a Espanha

A cada três meses surge uma nova revisão do programa de ajuste da Grécia. Esta tem sido a rotina desde que irrompeu a crise europeia, no início de 2010.

Desta vez, contudo, as sempre tensas negociações com a troica (FMI, Banco Central Europeu e Comissão Europeia) parecem ocorrer em ambiente mais sereno, sem ameaças de iminente saída do país da zona do euro.

Para isso contribui a aparente disposição do novo governo grego, após o vácuo decisório aberto por duas eleições em sequência, de aproveitar a rala legitimidade doméstica obtida para tentar recompor relações com seus credores.

O primeiro-ministro Antonis Samaras se encontra nos próximos dias com os principais líderes europeus e oferecerá cortes adicionais de 11,5 bilhões de euros (5,5% do PIB grego) em dois anos para compensar os fracassos recentes no cumprimento de obrigações assumidas. Em troca, proporá alongar o prazo para reduzir o deficit público de seu país a 3% do PIB.

Às nações dominantes da Europa, Alemanha à frente, também interessa procrastinar. Já se reconhece que a recessão grega é mais profunda do que prevê o programa de recuperação (o PIB pode cair 7% neste ano), o que recomenda alguma flexibilidade, sob risco de convulsão social.

O alongamento do programa parece ser o caminho de menor resistência política. Além do mais, a Europa como um todo tem decisões tão ou mais importantes a tomar nos próximos dois meses.

O encontro do BCE no início de setembro será o primeiro de uma série de eventos que definirão os capítulos subsequentes da crise. Espera-se que o banco detalhe como pretende intervir nos mercados de títulos dos países da periferia.

O BCE deixou claro que fará tudo que for necessário para reduzir os custos de financiamento de curto prazo na Espanha e na Itália. As taxas atualmente exigidas dispararam porque embutem o risco de ruptura do euro.

A despeito das objeções de seu próprio banco central, a chanceler alemã, Angela Merkel, reconhece a necessidade de garantir que a zona do euro chegue inteira às eleições alemãs de 2013. Uma vitória eleitoral convincente daria a Merkel força para avançar no longo e penoso processo de união fiscal europeia, com mais controle central das contas públicas de cada país, apontada como essencial.

A precondição para o socorro do BCE é um pedido formal dos interessados, que teriam de submeter-se a programas de ajuste. O primeiro candidato é a Espanha, que negocia condições honrosas para dar o passo ainda em setembro.

O sucesso em conter a crise na Espanha será o grande indicador da chance de sobrevivência da moeda única. Daí a inclinação europeia a adiar uma nova confrontação com a Grécia e o apoio político para ações contundentes do BCE.

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