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Carlos Heitor Cony

A solução final

RIO DE JANEIRO - Bem antes da era dos transplantes, Jonathan Swift (1667-1745) fez seu herói encontrar, num dos países imaginários que conheceu, um cientista que resolvera a questão fundamental da sociedade. Ao separar cidadãos e povos, a política, a Justiça e a gramática levam a confusões que terminam em crises e guerras.

O tal cientista pegava os cidadãos, dividia-os de acordo com o tamanho do cérebro, calculava a massa encefálica de cada um. Num ato cirúrgico só possível na ficção, ele fazia um "blended" de cérebros, obtendo um denominador comum que era repartido proporcionalmente a cada caixa craniana. Com isso, todos pensavam da mesma maneira, tinham as mesmas ideias, lutavam pelas mesmas causas. No STF, os ministros Joaquim Barbosa e Ricardo Lewandowski teriam a mesma ideia sobre o mensalão.

Suspeito que a técnica dos transplantes ainda não chegou a esse ponto salutar. Mas, no tempo de Swift, seria impensável o transplante de um rim ou de um coração.

Ainda chegaremos lá.

A sociedade devia tomar providências para apressar esse dia. Teríamos, assim, um governo com as mesmas ideias e prioridades exigidas pela oposição, da mesma forma que a oposição teria o seu programa executado pelo governo. Paz aos homens, mesmo os de má vontade.

Não sei se faço bem ao lembrar a solução encontrada pelo personagem de Swift. Um "blended" de cérebros, um mix de neurônios sabiamente homogeneizados, colocaria os homens no mesmo patamar das formigas e abelhas, que, segundo os entendidos, adotam a melhor forma de convivência social.

Swift foi o escritor que, ao lado de Sterne, maior influência exerceu em Machado de Assis e em muitos outros. A humanidade que ele previu seria mais justa, embora menos divertida.

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