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Carlos Heitor Cony

O gato e o rato

RIO DE JANEIRO - Durante a últi-ma guerra mundial, como em qualquer guerra, havia um lado certo e outro errado. O lado mau colocava minas no mar, os navios do lado bom batiam nelas e afundavam. Mas o pessoal do bem encontrou um modo de evitar as minas do mal e elas ficaram inúteis.

Entretanto a turma do mal desenvolveu uma tecnologia e começou a fabricar minas magnéticas. O casco de ferro atraía as minas e dava tudo no mesmo: os navios afundavam. Mas a turma do bem desenvolveu uma outra tecnologia, revestindo o casco com uma grossa camada de borracha que impedia a ação magnética das minas. Venceu a guerra.

Lembro, sem muitos detalhes, desse episódio para entrar no assunto. O julgamento do mensalão, no STF, tanto da parte da acusação como da defesa, escancarou aquilo que os juristas chamam de "modus faciendi" da corrupção, do peculato e da lavagem de dinheiro.

Daqui para a frente, os interessados ficarão sabendo como, de uma forma ou de outra, as instituições legais conseguem apurar os variados tipos de corrupção e suborno. Por exemplo: mandar a mulher ao banco para receber pessoalmente o dinheiro do suborno. Ou fatiar uma empresa imaginária em meia dúzia de empresas também imaginárias -ou quase.

Serão criadas novas rotinas, meios e modos para ocultar indícios ou provas da corrupção ativa e passiva, disfarçando ou complicando as operações ilícitas. A guerra do bem contra o mal continuará com o emprego de outras táticas e o processo será mais sofisticado, tornando impossível, difícil ou improvável a apuração dos crimes contra o Estado e a sociedade em geral.

O maior criminoso do século 20 escreveu um livro no qual deixou uma pergunta cuja resposta é um enigma: "Um gato come um rato. Quem é o culpado?".

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