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Hélio Schwartsman

Epidemiologia da cola

SÃO PAULO - Harvard investiga um caso de cola em massa. Mais de cem estudantes dessa instituição, que é provavelmente a universidade mais prestigiada do mundo, teriam cometido fraudes variadas no curso de Introdução ao Congresso. Eles poderão ser suspensos ou até ter seus diplomas revogados. Para o reitor, o caso é sem precedentes. Será?

A epidemiologia da cola sugere que não. Um trabalho de 2005 de Donald McCabe mostrou que 70% dos alunos do ensino médio de escolas públicas dos EUA admitiam ter colado em testes. Entre estudantes de instituições privadas, o índice caía para 50%. No Brasil, pesquisa Datafolha de 2009 revelou que 31% da população reconhecia já ter colado.

O fenômeno transcende a escola. Uma empresa de recursos humanos de Wisconsin divulga anualmente, desde 1995, seu Índice do Mentiroso, isto é, a proporção de CVs fraudulentos que recebe. Em 2011, a taxa foi de 27,3%, o recorde histórico.

Estudiosos da mentira, como o psicólogo Robert Feldman, autor de "The Liar in Your Life", chegam bem perto de afirmar que o engodo está inscrito em nosso DNA. Um trabalho do próprio Feldman mostrou que, durante uma conversação de apenas dez minutos, duas pessoas que não se conhecem mentem uma média de três vezes cada. Por quê?

Aqui há várias teorias. Feldman afirma que a razão principal é que mentir, seja para si próprio, na forma de autoengano, seja para os outros, confere vantagens ao burlador. Dan Ariely, em "The (Honest) Truth about Dishonesty", que já discuti aqui, avança um pouco e sugere que nosso comportamento é uma solução de compromisso entre a busca por benefícios e a preservação da autoimagem como pessoa honesta. Resultado: roubamos só um tiquinho.

Diante disso e considerando que os alunos de Harvard ainda fazem parte do gênero humano, descobrir que também eles colam não é tão surpreendente assim.

helio@uol.com.br

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