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Luiz Cláudio Costa

TENDÊNCIAS/DEBATES

A metodologia de avaliação da educação

É preciso discutir a substituição do Saeb, que é amostral, pelo Enem. Sabemos que a proposta levanta várias questões, mas o debate não pode virar polêmica

A recente divulgação pelo Ministério da Educação do Ideb 2011 (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) trouxe informações relevantes para que o Brasil continue a avançar em direção a uma educação de qualidade. Tão importante quanto os resultados é a constatação que a sociedade brasileira está incorporando as discussões sobre a qualidade da educação em sua rotina.

Ao apresentar os resultados do Ideb, o ministro Aloizio Mercadante trouxe à tona algumas questões que devem ser amplamente debatidas para não comprometer os avanços.

O ministro abordou a necessidade de discutir o currículo do ensino médio, considerando a viabilidade de se migrar do atual modelo curricular para um organizado em áreas do conhecimento, sem prejuízos a disciplinas especificas, que evidentemente estariam contidas de forma integrada nas grandes áreas. Solicitou ainda o avanço em direção à educação em tempo integral.

Outra questão abordada foi a necessidade de um estudo para verificar a efetividade do Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica), que é aplicado de forma amostral para alunos do 3º ano do ensino médio, como métrica para avaliar e permitir a construção de políticas de melhorias nessa fase de ensino. Hoje, o Saeb é utilizado no cálculo do Ideb.

A discussão é necessária e útil. Afinal, no passado foi tomada a decisão de transformar a avaliação aplicada no 5º e 9º anos do ensino fundamental de amostral para censitária, permitindo assim a geração de médias de desempenho para as instituições participantes, propiciando um maior envolvimento das escolas, da família e da sociedade.

Houve igualmente uma polêmica muito grande. Parece não haver dúvidas, hoje, que tal decisão foi acertada e que a mesma mobilização é necessária para o ensino médio.

O estudo da mudança de uma aplicação amostral para censitária não desconhece que todas as aplicações amostrais foram feitas dentro da mais correta técnica e que, portanto, todos os seus resultados são validos e relevantes.

A discussão de aplicação censitária da avaliação do ensino médio leva ainda a outra importante e questão: é apropriado substituir no cálculo do Ideb a métrica do Saeb pela do Enem?

Estudos sobre isso podem se constituir em uma uma ótima oportunidade para tornar a avaliação da educação brasileira mais apropriada.

Eis alguns aspectos que tal debate introduz: como será tratado o problema da ausência de alunos matriculados no ensino médio que ocorre tanto no Saeb como no Enem? Como garantir a coerência da nova metodologia de cálculo com a importante série histórica que o Brasil hoje possui? Como considerar as notas das quatro áreas do Enem, lembrando que no Saeb são avaliadas somente língua portuguesa e matemática? A nota da redação deve ser incluída?

Tais estudos demandam uma revisão ou introdução da interpretação pedagógica dos escores do Enem. Ressalte-se ainda a questão da motivação, que pode levar um estudante a se empenhar mais ao fazer uma prova de impacto em sua vida escolar, como o Enem.

O bom debate trazido pelas reflexões propostas é uma ótima oportunidade para se discutir e apresentar soluções para os grandes desafios que temos na educação brasileira, especialmente no ensino médio.

Por essa razão o ministro solicitou, sem açodamento, estudos técnicos adequados para posterior debate, escrutínio e diálogo com especialistas e a sociedade. Com o bom debate ganhamos todos, com a polêmica perde o Brasil.

LUIZ CLÁUDIO COSTA, 54, é presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anízio Teixeira. Foi reitor da Universidade Federal de Viçosa

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br

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