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Hélio Schwartsman

Do nada

SÃO PAULO - Destacam-se, hoje, duas formas de ateísmo. Há aquele mais militante, de Richard Dawkins e Christopher Hitchens, que procura nos convencer de que a ideia de um criador é absurda, e há um outro mais sutil, dos físicos, que, seguindo a tradição inaugurada por Laplace, sugerem que Deus é uma hipótese desnecessária.

Foi lançado há pouco nos EUA um bom exemplar dessa segunda categoria. Trata-se de "Um Universo do Nada - Por que Existe Algo em vez de Nada", de Lawrence Krauss. É uma obra fascinante que se vale de doses quase compreensíveis de cosmologia e física de partículas para traçar uma história do Universo. Complementa essa sopa de ciência com instigantes observações filosóficas, que, mesmo que não façam o eventual crente mudar de campo, ao menos o deixam mais informado acerca do que está em jogo.

Krauss mostra que existem evidências empíricas razoavelmente sólidas de que o Big Bang ocorreu 13,72 bilhões de anos atrás, de que o Universo está se expandindo de forma acelerada e de que partículas virtuais surgem e desaparecem no espaço a todo instante. Revela ainda que há motivos para acreditar que nosso Universo possa ser apenas um de uma coleção de realidades independentes chamada de multiverso.

A partir dessas e de outras pistas, Krauss vai compondo um quadro de como tudo isso poderia ter surgido do nada sem violar as leis da física e a matemática. E a explicação resumida é que o nada, compreendido como espaço vazio, é instável, tão instável que o surgimento de algo se torna quase inevitável. E esse algo, desde que submetido às condições certas, pode converter-se num universo. Isso teria ocorrido pelo menos uma vez, resultando no nosso Universo.

Krauss encerra a obra dizendo que isso tudo não basta para excluir definitivamente um Criador, mas é o suficiente para torná-lo, na melhor das hipóteses, redundante.

helio@uol.com.br

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