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Ruy Castro

Com a derrota nas costas

RIO DE JANEIRO - Viver viajando a trabalho dá nisto. Volta e meia, vejo-me em aeroportos ao lado de times de futebol que voltam para suas cidades depois de um jogo pelo campeonato -jogo em que foram novamente derrotados e, com isso, a segunda divisão está cada vez mais à vista. No aeroporto, agrupados no meio do saguão, expos-tos e cercados de torcedores de times em melhor situação, eles parecem acabrunhados.

Acabrunhamento que pode ser sincero ou não. Afinal, não fica bem a jogadores que só perdem ou empatam saírem batucando, cantando pagodes ou marcando churrascos em voz alta num lugar público. Não pela possibilidade de ser vistos por seus próprios torcedores -afinal, estão em outra cidade-, mas por saber que, um dia, poderão estar defendendo um time daquela cidade e ganhar a fama de levianos.

Nem eles têm onde se esconder. Vestidos com as cores de seus clubes, são um alvo fácil nesses lugares. Por sorte, o torcedor brasileiro é mais elegante do que se pensa. Nunca vi uma delegação derrotada ser gozada por torcedores locais num aeroporto nem hostilizada por seus próprios torcedores que podem ter viajado junto com eles. No máximo, vejo conversas equilibradas e em tom educado.

O problema está na chegada à sua própria cidade e, nesse caso, não sei o que será pior -torcedores gritando ofensas, atirando moedas e pedindo raça, ou ignorando-os, não comparecendo ao aeroporto e os condenando a desembarcar sob silêncio e desprezo. Nesse momento, é o que pode estar acontecendo às delegações de Flamengo, Palmeiras e Cruzeiro, quando voltam para casa com mais uma derrota nas costas.

O acabrunhamento dos jogadores é discutível. Daqui a seis meses, já terão trocado de camisa, e vida que segue. Já o torcedor, que não põe o coração no mercado, continuará fiel ao seu clube e morrerá abraçado a ele.

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