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Russomanno resiste

Candidatura exibe vigor inusitado, mas inspira o receio de ser nova aventura eleitoral, sem bases sólidas que a possam viabilizar

A cada pesquisa Datafolha, como a publicada nesta edição, parece menos provável uma reviravolta eleitoral em São Paulo. Faltando 17 dias para as eleições, Celso Russomanno (PRB) continua a liderar com folga a corrida para a Prefeitura, enquanto José Serra (PSDB) e Fernando Haddad (PT) disputam a outra vaga num provável segundo turno.

Não faltam explicações para o fenômeno. Depois de concorrer em diversas eleições, Serra adquiriu a fama de usar cargos conforme as conveniências da própria carreira, além de ser patrono do atual prefeito, o mal avaliado Gilberto Kassab (PSD).

Haddad sofre contágio dos ainda pouco conhecidos efeitos que emanam do julgamento do mensalão; deve sua candidatura inteiramente ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, numa cidade onde a rejeição ao PT, mesmo em segundo turno, quase sempre ultrapassou metade do eleitorado.

A preferência por Russomanno refletiria, ainda, certa fadiga em relação à polaridade que domina há tanto tempo a política paulistana, opondo o PT ao malufismo (nos anos 1990) e aos tucanos do PSDB (na década passada).

De um prisma sociológico, chegou-se a cogitar se a ascensão do candidato -famoso como apresentador de programas de defesa do consumidor na TV- não seria reflexo de outra ascensão, a do contingente que vem sendo chamado de "classe C" ou "nova classe média".

É plausível que todos esses fatores estejam a exercer influência. No entanto, se fica patente, na inclinação da maioria, um vago desejo de mudança, não está definido que tipo de mudança Russomanno poderia oferecer, nem mesmo se sua preponderância, caso confirmada nas urnas, não seria um retrocesso.

Receia-se que o candidato seja tutelado pela Igreja Universal, entidade evangélica e empresarial que não apenas controla a emissora de TV onde ele trabalhava, mas está por trás do diminuto partido que o abriga. Se tal receio tem alguma pertinência, entretanto há outro maior.

Deputado federal em quatro mandatos, Russomanno não tem experiência administrativa. Sem apoios expressivos na sociedade civil e no sistema partidário, sem equipe de nomes reconhecidos e sem programa discernível de governo, sua postulação tem ingredientes de personalismo e voluntarismo que a aproximam de aventuras eleitorais de má memória.

O desfecho segue incerto, numa eleição mais imprevisível que o habitual. Como líder nas pesquisas, Celso Russomanno deve ser levado a sério. Como candidato menos conhecido entre os eleitoralmente viáveis, tem a obrigação de responder a esses questionamentos e de se submeter ao crivo severo da opinião pública.

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